HELÂNIA CUNHA DE SOUSA CARDOSO A POESIA ... - Educadores
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tão morse e tão desflorida,<br />
linear, numa só corda,<br />
em ponto e traço, concisa,<br />
a dicção em preto e branco<br />
de sua perna polida.<br />
Em sua dança seca, concisa, fixa, “tão desflorida”, oposta ao balé clássico, a<br />
“telegrafista”, sapateando, emite um código que o espectador capta no plano da<br />
sensualidade. Parece ser uma espécie de sensualidade bruta, instintiva e bastante envolvente<br />
e persuasiva. Não é a sensualidade de um corpo desvelado, mas a sensualidade “linear” e<br />
“concisa” de movimentos e ritmos, isto é, está na linguagem de sua dança. O taconear da<br />
bailadora reitera o dinamismo da imagem feminina, e a “telegrafista” que toca o solo,<br />
teluricamente, transmuta-se em “árvore”:<br />
Ela não pisa na terra<br />
como quem a propicia<br />
para que lhe seja leve<br />
quando se enterre, num dia.<br />
Ela a trata com a dura<br />
e muscular energia<br />
do camponês que cavando<br />
sabe que a terra amacia.<br />
Do camponês de quem tem<br />
sotaque andaluz caipira<br />
e o tornozelo robusto<br />
que mais se planta que pisa.<br />
Assim, em vez dessa ave<br />
assexuada e mofina,<br />
coisa a que parece sempre<br />
aspirar a bailarina,<br />
esta se quer uma árvore<br />
firme na terra, nativa,<br />
que não quer negar a terra<br />
nem, como ave, fugi-la.<br />
Árvore que estima a terra<br />
de que se sabe família<br />
e por isso trata a terra<br />
com tanta dureza íntima.<br />
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