HELÂNIA CUNHA DE SOUSA CARDOSO A POESIA ... - Educadores
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Na casa sem pé direito,<br />
na mesa sem serventia,<br />
apenas, com seu cachorro,<br />
vem sentar-se a ventania.<br />
E quando não é a mesa<br />
sem toalha e sem terrina,<br />
a paisagem de Castela<br />
num grande palco se amplia:<br />
no palco raso,sem fundo,<br />
só horizonte, do teatro<br />
para a ópera que as nuvens<br />
dão ali em espetáculo:<br />
palco raso e sem fundo<br />
palco que só fosse chão,<br />
agora só freqüentado<br />
pelo vento e por seu cão.<br />
No mais, não é Castela<br />
mesa nem palco, é o pão:<br />
a mesma crosta queimada,<br />
o mesmo pardo no chão;<br />
aquele mesmo equilíbrio<br />
de seco e úmido, do pão,<br />
terra de águas contadas<br />
onde é mais contado o grão;<br />
aquela maciez sofrida<br />
que se pode ver no pão<br />
e em tudo o que o homem faz<br />
diretamente com a mão.<br />
E mais: por dentro, Castela<br />
tem aquela dimensão<br />
dos homens de pão escasso,<br />
sua calada condição.<br />
(MELO NETO, 1986, p.247)<br />
Além da recuperação do espaço de carência, que atravessa a poética cabralina<br />
sobretudo nos livros da segunda fase em que há as referências a Pernambuco, percebemos o<br />
retorno aos seres que habitam esse espaço, como o cão, o vento e o homem de “calada<br />
condição”, seres que vivem à margem da sociedade:<br />
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