18.04.2013 Views

HELÂNIA CUNHA DE SOUSA CARDOSO A POESIA ... - Educadores

HELÂNIA CUNHA DE SOUSA CARDOSO A POESIA ... - Educadores

HELÂNIA CUNHA DE SOUSA CARDOSO A POESIA ... - Educadores

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

mesmo livro, com "De Bernarda a Fernanda de Utrera" 77 o poeta reintroduz as imagens da<br />

brasa e da chama, mas relacionadas às mulheres espanholas e aos seus cantes.<br />

No livro Agrestes (1981-1985), com “Uma bailadora sevilhana” 78 , João Cabral<br />

volta à mulher andaluza e seus sensuais movimentos de pernas, até que seja recuperada<br />

totalmente a imagem da bailadora espanhola e o seu dançar flamenco que “é cada vez; / é<br />

fazer; é um faz, nunca um fez” (MELO NETO,1997, p. 233). No penúltimo livro, Sevilha<br />

Andando (1987-1993), o poeta recorre novamente à imagem da bailadora, observando a<br />

incapacidade de dá-la a ver por palavras, pois “nada sabe dizer de novo” (MELO<br />

NETO,1997, p.329). As imagens associadas à mulher de “Estudos para uma bailadora<br />

andaluza” são revistas e o poeta conclui que “o que dela se escreveu até então/ se revelou<br />

premonição” (MELO NETO,1997, p. 332).<br />

A análise desses textos evidencia os processos de desarticulação/reinvenção da<br />

imagem feminina na poesia de João Cabral de Melo Neto. Depois de estruturada a imagem,<br />

o poeta começa a depurá-la de forma bastante inovadora, através de desdobramentos e<br />

contrastes metafóricos; em seguida, há a total negação da imagem construída inicialmente e<br />

a mulher passa a existir pelo que não se “sabe” ou não se deseja dizer dela. Assume o<br />

estatuto de figura, e passa a ter forma, como propõe Gerard Genette (1972), em seu ensaio<br />

“Figuras”: “A expressão simples e comum não tem forma, a figura, sim: eis-nos de volta à<br />

definição da figura como separação entre o signo e o sentido, como espaço interior da<br />

linguagem.”(GENETTE, 1972, p.201) A mulher, portanto, torna-se palavra que adquire<br />

concretude, vigor, consistência e suscita, ao ser expressa, uma pluralidade de significados.<br />

77 Conferir anexo 05.<br />

78 Conferir anexo 05.<br />

169

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!