HELÂNIA CUNHA DE SOUSA CARDOSO A POESIA ... - Educadores
HELÂNIA CUNHA DE SOUSA CARDOSO A POESIA ... - Educadores
HELÂNIA CUNHA DE SOUSA CARDOSO A POESIA ... - Educadores
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Hoje embarcou numa mulher<br />
Recifense, ele a chama barcaça,<br />
que é o barco mais feminino,<br />
é mulher feita barco e casa<br />
(MELO NETO, 1997, p. 335)<br />
ou na “cidade-mulher”, onde o homem:<br />
nunca saberá<br />
se vive a cidade<br />
ou a mulher melhor<br />
sua mulheridade.<br />
(MELO NETO, 1997, p. 346)<br />
Barcaça e cidade são equivalentes à mulher, quando configuradas como espaços<br />
do acolhimento, da harmonia, do repouso, apesar de suscitarem, simultaneamente, a idéia<br />
de movimento. A barcaça navega “sem timão, sem timoneiro”, não tem destino certo; a<br />
cidade é lugar de “perfeito andar”, que possui “rua sem nome”. Apesar de indefinida, a<br />
cidade-mulher caracteriza-se pelo seu “segredo”: “o tudo de Sevilha/ está no andar de sua<br />
mulher” (MELO NETO, 1997, p.339). A partir de então, a cidade-mulher torna-se “Cidade<br />
viva”:<br />
Sevilha é uma cidade viva<br />
com a sevilhana que a habita,<br />
e que, andando, faz andar<br />
tudo o por onde ela passar.<br />
Seja a estreita Calle Regina<br />
ou a San Luís, na Macarena,<br />
há momentos em que não se sabe<br />
o que é passar e o que é passar-se.<br />
Ora, vi que Sevilha andava<br />
ou fazia andar quem a andasse.<br />
176