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HELÂNIA CUNHA DE SOUSA CARDOSO A POESIA ... - Educadores

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Nesse contexto, acreditamos que as formulações de João Cabral em relação à música<br />

apresentam alguns traços originais que devem ser apontados. O primeiro deles é que o<br />

poeta não se considera um sujeito antimusical, mas antimelódico:<br />

Não sou musical para o ouvido por deficiência, mas me considero musical no<br />

sentido de que música não é só melodia embalante, mas construção de sons no<br />

tempo. Organização de elementos (na poesia, imagísticos e conceituais), uma<br />

arquitetura que se desenvolve numa determinada extensão de tempo.Você usou<br />

bem o verbo “desidratar”. Ao procurar “desidratar” minha expressão, eliminei<br />

dela todos os líquidos fluviais inúteis, isto é, tudo o que se introduz gratuitamente<br />

no verso para se atingir o que é mais fácil e superficial da música, a<br />

melodia.(MELO NETO, 1976)<br />

Além de negar um tipo de música marcada pela melodia, João Cabral afirma que o<br />

seu interesse é pela música a contrapelo, “não o entorpecente, mas o estimulante. Ora, o<br />

flamenco me dá isso. É como a luz que arde nos olhos de quem estava dormindo no<br />

escuro.”(Ibidem) Desse modo, João Cabral destaca também a possibilidade visual da<br />

música.<br />

As raras referências críticas que tentam incorporar a música e a dança flamencas à<br />

poética cabralina, porém, evidenciam apenas o aspecto sonoro do canto espanhol, como<br />

sendo um recurso para acentuar o caráter metalingüístico do texto, ou a temática da<br />

agudeza do discurso cabralino comparado ao falar a palo seco, contundente de Graciliano<br />

Ramos. Nesse sentido, relacionam tal aproveitamento interdiscursivo ao “fazer” do poeta e<br />

ao efeito eletrizante que esse recurso provoca no leitor. O lado visual da música, que na<br />

maioria das vezes está articulada à dança, não é considerado nesses casos.<br />

A nosso ver, em João Cabral, a música e a dança flamenca recuperam o sentido de<br />

uma arte “viva”. O conceito de “vivo” na poética do autor já foi discutido como um tipo de<br />

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