HELÂNIA CUNHA DE SOUSA CARDOSO A POESIA ... - Educadores
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Vários leitores cabralinos 83 observaram que tais imagens vêm reforçar a sofrida<br />
consciência de nosso atraso, a dura certeza de que a fome e a miséria não são uma<br />
fatalidade, um flagelo divino, mas o produto perverso do subdesenvolvimento. Nesse<br />
sentido, João Cabral resgata suas origens e a memória de seu povo para estruturar as bases<br />
da construção das imagens de Recife. Nesse resgate, o autor parece construir, como nos<br />
lembra Wilton Rossi (2006), uma ponte que ao mesmo tempo une e separa seus dois<br />
extremos, o autor e o leitor, falantes de duas línguas diferentes em dois universos diferentes<br />
conectados pela poesia, unicamente. O leitor toma as rédeas do ponto em que o autor as<br />
largou.<br />
Em decorrência desse processo de rememoração, João Cabral encontra, nos seus<br />
primeiros contatos com a geografia espanhola, o espaço árido do sertão nordestino. Por<br />
isso, em “Imagens em Castela”, do livro Paisagens com figuras (1954-1955), percebemos o<br />
retorno a Pernambuco através da recuperação da aridez da terra e dos elementos que a<br />
compõem:<br />
Imagens em Castela<br />
Se alguém procura a imagem<br />
da paisagem de Castela<br />
procure no dicionário:<br />
meseta provém de mesa.<br />
É uma paisagem em largura<br />
de qualquer lado infinita.<br />
É uma mesa sem nada<br />
e horizontes de marinha<br />
posta na sala deserta<br />
de uma ampla casa vazia,<br />
casa aberta e sem paredes,<br />
rasa aos espaços do dia.<br />
83 Conferir o artigo de Zuenir Ventura intitulado “Homem ainda é a melhor medida - A educação política pela<br />
poética de João Cabral”, disponível em http://epoca.globo.com/edic/19991018/zuenir.htm.<br />
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