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HELÂNIA CUNHA DE SOUSA CARDOSO A POESIA ... - Educadores

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quando tratamos da produção poética de João Cabral, pois não acreditamos que o poeta, ao<br />

se referir ao leitor que não sabe ler, ou àquele que tem dificuldades em alcançar o sentido<br />

de sua lírica, tenha a pretensão de exigir um domínio teórico dos processos construtivos do<br />

texto. João Cabral é um dos poetas da literatura de língua portuguesa que mais se<br />

preocupou em produzir uma poesia visível para o seu leitor, valendo-se de estratégias<br />

discursivas que caracterizam textos pertencentes ao contexto da arte popular, como o metro<br />

da literatura de cordel, o tom didático das fábula etc.<br />

Lembramos que o reconhecimento da preponderância do aspecto visual das imagens<br />

sobre o aspecto conceitual, além de exigir a concretização da palavra, para oferecê-la ao<br />

leitor de forma clara, implica também falar “numa ‘forma’ familiar ao leitor”, já que “cada<br />

povo tem determinadas formas ou gêneros de poesia que lhe são familiares.” (MELO<br />

NETO, 1954) 38 Nessa perspectiva, a clareza dessa poesia está articulada tanto ao processo<br />

de percepção sensorial, quanto à capacidade de o escritor dar tratamento poético às formas<br />

artísticas familiares ao leitor.<br />

A partir do exposto, podemos afirmar que a busca do visível é o traço fundamental<br />

do lirismo de João Cabral, o qual marca a linguagem cabralina de Pedra do sono (1942) a<br />

Andando Sevilha (1987-1989), ou seja, de um tipo de Cubismo, de Surrealismo ou<br />

Construtivismo inicial, marcado pela pesquisa e planejamento, até chegar a um tipo de<br />

realismo social, contribuindo para uma percepção mais humana das populações nordestinas<br />

e do viver sevilhano. Nas palavras de George Rudolf Lind (1970),<br />

a arte sóbria e severa de João Cabral, racionalmente clara apesar dos seus<br />

artifícios estilísticos gongóricos, esta arte não apela ao nosso sentimento, não<br />

conta com o nosso entusiasmo; mas, se assumirmos a atitude que ela exige de<br />

38 Conferir depoimento publicado na obra de Félix de Athayde (1998, p. 34), sem referência à fonte direta.<br />

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