HELÂNIA CUNHA DE SOUSA CARDOSO A POESIA ... - Educadores
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os sobrados, paginados em romancero.<br />
várias colunas por fólio, imprensados.<br />
(Coisas de cabeceira, firmando módulos:<br />
assim, o do vulto esguio sobrados).<br />
(MELO NETO, 1986, p.10)<br />
Os recortes são feitos a partir de imagens táteis que remetem a coisas duras, ásperas,<br />
agudas. A cidade recuperada pelo poeta tem como alicerce a imagem da pedra, da terra<br />
bruta. Em outros momentos, o poeta consegue apreender a cidade pelo seu oposto, pelo seu<br />
lado “úmido”:<br />
Fazer o seco, fazer o úmido<br />
A gente de uma capital entre mangues,<br />
gente de pavio e de alma encharcada,<br />
se acolhe sob uma música tão resseca<br />
que vai ao timbre de punhal, navalha.<br />
Talvez o metal sem húmus dessa música,<br />
ácido e elétrico, pedernal de isqueiro,<br />
lhe dê uma chispa capaz de tocar fogo<br />
Na molhada alma pavio, molhada mesmo.<br />
*<br />
A gente de uma Caatinga entre secas,<br />
Entre datas de seca e seca entre datas,<br />
se acolhe sob uma música tão líquida<br />
que bem poderia executar-se com água.<br />
Talvez as gotas úmidas dessa música<br />
Que a gente dali faz chover de violas,<br />
Umedeçam, e senão com a água da água,<br />
Com a convivência da água, langorosa.<br />
(MELO NETO, 1986, p.13)<br />
Abraçada pelo mar, pelo canavial, pela cana retilínea e nua, pela lama que envolve o<br />
homem, pela faca só lâmina, enfim, por toda a ambientação de Pernambuco, Recife vai se<br />
configurando as olhos do leitor. Na alternância dramática do úmido e do seco, vive o ser<br />
humano, ferindo a sensibilidade do leitor, através de imagens áridas e agressivas.<br />
A que contexto humano e social essas imagens nos remetem?<br />
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