HELÂNIA CUNHA DE SOUSA CARDOSO A POESIA ... - Educadores
HELÂNIA CUNHA DE SOUSA CARDOSO A POESIA ... - Educadores
HELÂNIA CUNHA DE SOUSA CARDOSO A POESIA ... - Educadores
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Mesmo quando ela possui<br />
tua plácida elegância,<br />
esse teu reboco claro,<br />
riso franco de varandas,<br />
uma casa não e nunca<br />
só para ser contemplada;<br />
melhor: somente por dentro<br />
é possível contemplá-la.<br />
Seduz pelo que é dentro,<br />
ou será, quando se abra;<br />
pelo que pode ser dentro<br />
de suas paredes fechadas;<br />
pelo que dentro fizeram<br />
com seus vazios, com o nada;<br />
pelos espaços de dentro,<br />
não pelo que dentro guarda;<br />
pelos espaços de dentro:<br />
seus recintos, suas áreas,<br />
organizando-se dentro<br />
em corredores e salas,<br />
os quais sugerindo ao homem<br />
estâncias aconchegadas,<br />
paredes bem revestidas<br />
ou recessos bons de cavas,<br />
exercem sobre esse homem<br />
efeito igual ao que causas:<br />
a vontade de corrê-la<br />
por dentro, de visitá-la.<br />
(MELO NETO, 1986, p. 153)<br />
Segundo Gaston Bachelard (1998, p.219), o geometrismo reforçado da dialética do<br />
exterior e do interior impõe limites que constituem barreiras. Por esse motivo, na leitura do<br />
texto literário, é preciso libertar-se de qualquer intuição definitiva para acompanhar a<br />
audácia dos poetas. Embora haja, no início do poema, a sugestão da exterioridade da casa<br />
aliada à estaticidade da figura feminina vista como espaço de “aconchego”, “abrigo”,<br />
prevalece o dinamismo do jogo da contemplação que é mais do interior, do que do exterior<br />
da casa-mulher.<br />
174