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HELÂNIA CUNHA DE SOUSA CARDOSO A POESIA ... - Educadores

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desprezou 85 , ou então passa a justificar a postura final do poeta em função do momento em<br />

que a obra é produzida, como se todo o percurso anterior perdesse sentido diante de tanta<br />

sensibilidade. 86<br />

A despeito dessas suposições, importa acentuar que, com os espanhóis, João Cabral<br />

aperfeiçoa o seu cante a palo seco, a ponto de torná-lo um “grito mais extremo”, que “tem<br />

de subir mais alto/ que onde sobe o silêncio;”(MELO NETO,1989, p.163). Além do mais,<br />

alguns toureiros ensinam o poeta a “domar a explosão [da flor]/com mão serena e contida/<br />

sem deixar que se derrame/ a flor que traz escondida”(MELO NETO,1989, p.259); o<br />

ferrageiro de Carmona dá-lhe a receita de “forjar: domar o ferro à força,/ não até uma flor<br />

já sabida,/ mas ao que pode ser flor se flor parece a quem o diga”(MELO NETO,1997,<br />

p.289) e os cantores do flamenco, acompanhados de suas bailadoras, mostram que entre<br />

poeta, poesia e leitor tem que haver “intimidade,/ assim no cante que no baile”, pois o poeta<br />

quer uma poesia “que se funciona para o próximo,/ quer um próximo conivente”. (MELO<br />

NETO,1997, p.384)<br />

Talvez a questão mais importante que devemos considerar acerca de João Cabral é<br />

85 Essa é a opinião de Carlos Felipe Moisés, no seu ensaio”Tradição reencontrada: lirismo e antilirismo em<br />

João Cabral: “Romper com a tradição obriga a seguir rompendo indefinidamente, e obriga ao mesmo tempo<br />

conviver para sempre com ela, vale dizer, com o lado indesejado de si mesmo. Para sempre ou até cansar, ou<br />

até que a intransigência ceda. Ceder não seria contrariar a coerência interna daquela poética do rigor? Insistir<br />

até cansar não seria uma forma de violentação? O fato é que a personalidade integral do poeta já não esconde<br />

mais que é constituída também de um lado sombrio, egoísta, sentimental. Por isso o confessionalismo, o autobiografismo,<br />

o tom memorialístico e saudosita dos últimos livros. O subjetivismo declarado, enfim, e não<br />

apenas subentendido.”<br />

86 É o caso de Ivan Junqueira que, no seu discurso de posse na Academia Brasília de Letras, alega que João<br />

Cabral termina a sua obra aos 45 anos, baseando-se no seguinte depoimento de Cabral a Rubem Braga em<br />

1976: "Considero minha obra acabada aos 45 anos. Não no sentido de que não escreverei mais, nem no de que<br />

não publicarei mais. Sim, no sentido de que não me sinto responsável pelo que escrevi e escreverei (talvez)<br />

depois dos 45 anos (...). Mas o que escrevi e talvez escreverei depois de A educação pela pedra é coisa que<br />

escrevi sem a mesma consciência, ou lucidez, do que escrevi antes. Gostaria de ser julgado pelo que escrevi<br />

até os 45 anos. Gostaria de ser considerado um autor póstumo: procurarei ignorar o que dizem, o que acham<br />

do que ainda posso fazer (e do que fiz depois dos 45 anos; isto é, depois de A educação pela pedra). Não sinto<br />

mais em mim a energia que precisei usara para escrever o pouco que escrevi até então.”<br />

198

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