HELÂNIA CUNHA DE SOUSA CARDOSO A POESIA ... - Educadores
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olho o mar.<br />
Os acontecimentos de água<br />
põem-se a se repetir<br />
na memória.<br />
(MELO NETO, 1986, p.385)<br />
Embora essa “mentação surrealista” venha nas duas primeiras estrofes, de acordo<br />
com o crítico, “tal identificação não deixará de chocar ao leitor familiarizado com a obra de<br />
Cabral a partir de O engenheiro. É certo que a alucinação surrealista não toca em sua<br />
lucidez” (LIMA,1968, p.244), já que, nas duas últimas estrofes, o livro se mantém aberto e<br />
as imagens líquidas “põem-se a se repetir” no espaço da “memória”.<br />
A título de conclusão, percebemos que o primeiro livro de João Cabral apresenta os<br />
“olhos”, ou as ações correlatas ao ato da visão, de uma maneira distinta da tradição<br />
observada por Sussekind, por permitir que a realidade ganhe corpo, torne-se dinâmica, viva,<br />
palpável, concreta. Desse modo, João Cabral parece conceber a percepção como resultante<br />
de uma relação do sujeito com o mundo exterior e não uma reação físico-fisiológica de um<br />
sujeito físico-fisiológico a um conjunto de estímulos externos (como suporia o empirista),<br />
nem uma idéia formulada pelo sujeito (como suporia o intelectualista).A relação dá sentido<br />
ao percebido e ao percebedor, e um não existe sem o outro. Se o eu-lírico do poema utiliza-<br />
se de olhos telescópicos, ou de “visões mecânicas”, é para enxergar a realidade a partir do<br />
que é menos visível ao olho comum e não para reduplicar a realidade do senso comum.<br />
2.2. O EXERCÍCIO CUBISTA EM OS TRÊS MAL-AMADOS<br />
A visualização-concreção, como processo de criação poética, como propõe Costa<br />
Lima, ou a percepção fenomenológica pode ser observada também no segundo livro do<br />
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