HELÂNIA CUNHA DE SOUSA CARDOSO A POESIA ... - Educadores
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Nesse poema, a mulher “feita de borracha e pássaro”, é apresentada em movimento,<br />
dançando “no pavimento/ anterior do sonho”.(MELO NETO, 1986, p.342). A despeito de<br />
sua constituição, ou seja, feita de elementos cotidianos, concretos e, ao mesmo tempo,<br />
sensível, ela se movimenta. É um ser vivo que se apresenta diante de nossos olhos, mesmo<br />
que as circunstâncias da sua constituição sejam desfavoráveis a essa apresentação.<br />
Tomado na perspectiva metalingüistica do fazer poético, o poeta revitaliza uma das<br />
imagens femininas mais prosaicas, a da bailarina, figura marcada tradicionalmente pela<br />
leveza e abstração. Como já assinalamos anteriormente, a mulher que dança aparece com<br />
freqüência na poética cabralina, principalmente no momento em que João Cabral passa a<br />
conviver com os espanhóis. No entanto, essa imagem da bailarina é substituída pelas<br />
imagens das bailadoras do flamenco, por adquirir densidade concreta no contexto poético.<br />
Os poemas que abordam essa temática se organizam a partir de processos dinâmicos,<br />
os quais impõem um constante exercício à poética cabralina. A concretude das imagens<br />
limitam o signo ao mesmo tempo que invocam, na apreensão do leitor/espectador, um jogo<br />
de aproximação e distanciamento da realidade. O nexo que permite a correlação imagética<br />
não é imediato ou fortuito: obedece à dinâmica do poema e brota de sua interioridade,<br />
reiterando a tensão – mola mestra do processo criativo – segundo a ótica e a semiótica de<br />
João Cabral.<br />
Logo, à medida que o ilusionismo pictórico da visualidade se desencadeia no texto,<br />
os recursos da poética cabralina – colagem, montagem e desmontagem – se revigoram e<br />
objetivam o estudo do fazer poético. Todos esses aspectos serão comentados e ilustrados,<br />
na seqüência, momento em que tratamos da dança e da música na poética de João Cabral.<br />
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