HELÂNIA CUNHA DE SOUSA CARDOSO A POESIA ... - Educadores
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eram longe de minha rua.<br />
nem mesmo pelo telefone<br />
me jogavam uma bomba.<br />
Alguém multiplicava<br />
alguém tirava retratos;<br />
nunca seria dentro de meu quarto<br />
onde nenhuma evidência era provável.<br />
Havia também alguém que perguntava:<br />
Por que não um tiro de revólver<br />
ou a sala subitamente às escuras?<br />
Eu me anulo me suicido,<br />
percorro longas distâncias inalteradas,<br />
te evito te executo a cada momento e em cada esquina.<br />
(MELO NETO, 1986, p. 375/376)<br />
Como no primeiro poema, aqui também se trabalha a idéia de distanciamento do eu-<br />
lírico, que não “consente” as ações de terceiros. No entanto, tais ações existem e o registro<br />
delas obedece a seqüências temporais diversas, em lugares distintos, de diferentes modos,<br />
permitindo a idéia de narratividade do texto.<br />
A visibilidade ou visualização, como processo basilar da criação poética de João<br />
Cabral, também pode ser observada em vários outros poemas de Pedra do sono, como em<br />
“Os manequins”:<br />
Os sonhos cobrem-se de pó.<br />
Um último esforço de concentração<br />
morre no meu peito de homem enforcado.<br />
Tenho no meu quarto manequins corcundas<br />
onde me reproduzo<br />
e me contemplo em silêncio.<br />
(MELO NETO, 1986, p.376)<br />
Neste poema, o eu-lírico materializa-se nos manequins de seu quarto, mantendo-se,<br />
no entanto, na mesma atitude contemplativa. A narratividade persiste no texto, uma vez que<br />
é visível a idéia de mudança, de transformação.<br />
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