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HELÂNIA CUNHA DE SOUSA CARDOSO A POESIA ... - Educadores

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concretos nos meus textos. Sim, porque adjetivos e verbos admitem essa<br />

categoria. Por exemplo: o adjetivo sublime é abstrato, como tristeza. Maçã é tão<br />

concreto quanto o adjetivo torto. A literatura espanhola usa preponderantemente<br />

o concreto, e por isso me interessou. As literaturas primitivas me interessam.<br />

Parece que a linguagem começou pelas palavras concretas. (SECCHIN, 1999, p.<br />

333)<br />

Como podemos observar, o significado da palavra “concreto” para João Cabral<br />

difere do uso do termo situado no contexto de vanguarda brasileira, e em parte daquele<br />

formulado pelo grupo Noigrandes, de São Paulo, apresentado por um artigo de outubro<br />

de 1955, por Augusto de Campos:<br />

Em sincronização com a terminologia adotada pelas artes visuais e, até certo<br />

ponto, pela música de vanguarda (concretismo, música concreta), diria eu que há<br />

uma poesia concreta.Concreta no sentido em que, postas de lado as pretensões<br />

figurativas da expressão (o que não quer dizer: posto à margem o significado), as<br />

palavras nessa poesia atuam como objetos autônomos. Se, no entender de Sartre,<br />

a poesia se distingue da prosa pelo fato de que para esta as palavras são signos<br />

enquanto para aquela são coisas, aqui essa distinção de ordem genérica se<br />

transporta a um estágio mais agudo e literal, eis que os poemas concretos<br />

caracterizar-se-iam por uma estruturação ótico-sonora irreversível e funcional, e,<br />

por assim dizer, geradora da idéia, criando uma entidade todo-dinâmica,<br />

‘verbivocovisual’ – é o termo de Joyce – de palavras dúcteis, moldáveis,<br />

amalgamáveis, à disposição do poema. (CAMPOS, apud TELES, 1979, p.178)<br />

Observamos que a idéia de “concreto” formulada pelo poeta pernambucano não<br />

coincide com o dos concretos, embora apresente certos traços valorizados por eles, como a<br />

exploração da materialidade da linguagem, em sua dimensão plástica e sonora. Ou seja, o<br />

conceito cabralino, por não se circunscrever ao culto da palavra como um objeto autônomo,<br />

é mais amplo e matizado que o do concretismo brasileiro, aproximando-se mais da proposta<br />

dos teóricos da análise do discurso 6 , os quais observam que a idéia de “concreto” não se<br />

restringe apenas aos substantivos, mas estende-se aos adjetivos e verbos, como “vermelho”<br />

6 Referimo-nos aos preceitos de Jean-Michel Adam (1987), traduzidos por Francisco Platão Savioli e José<br />

Luiz Fiorin (1996).<br />

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