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HELÂNIA CUNHA DE SOUSA CARDOSO A POESIA ... - Educadores

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gratuidade, de contemplação diante do texto, sem idéias preconcebidas, a fim de adentrar<br />

no espaço das sensações, percorrer o dentro e o fora da linguagem. Esta é a base da poesia<br />

que atinge a “inteligência através dos sentidos”, resultante de um olhar estético que difere<br />

do olhar do racionalismo cartesiano por desfazer a distinção sujeito-objeto, ao integrar “o<br />

que apreende com o que é apreendido”, como lembra Leyla Perrone-Moisés (NOVAES,<br />

1988) 84 . Assim, essa experiência estética, vivenciada pelo autor-leitor, pressupõe a<br />

dominância do sentido da visão sobre os demais sentidos.<br />

Cientes de que esse aspecto, o visual, é considerado por muitos críticos como o<br />

“ponto diretriz de sua estética, marcada pela presença do elemento espacial no corpo de<br />

seus poemas e na área de seus interesses intelectuais”, como ressalta Antônia T. Herrera<br />

(1995, p.151), constatamos que o processo da visualização atinge as quatro dimensões do<br />

discurso: morfológica, sintática, sonora e semântica.<br />

No plano morfológico, através do uso de neologismos, os quais nos remetem aos<br />

espaço nordestino e espanhol. No sintático, o texto é organizado de tal maneira que as<br />

repetições, os paralelismos, os encadeamentos, os desdobramentos das metáforas inscrevem<br />

movimento ao texto, instaurando um processo de semiose infinita, no plano semântico. No<br />

seu aspecto sonoro, a palavra cabralina recupera a fala contundente e áspera do sertão<br />

nordestino, ao mesmo tempo em que situa o fio agudo do cante flamenco.<br />

No sentido de alcançar essa “realidade visual ou visualizável”, além do<br />

aproveitamento de recursos das artes plásticas, constatamos que João Cabral propõe uma<br />

84 É nessa perspectiva que Leyla Perrone-Moisés (1988) classifica o olhar de Alberto Caeiro, heterônimo de<br />

Fernando Pessoa. A pesquisadora chama a atenção para a proximidade desse olhar objetivo com o olhar<br />

proposto pelas filosofias orientais. De acordo com a autora, “Um famoso mestre zen dizia : ‘Logo que<br />

começas a pensar numa coisa, ela deixa de ser. Precisas vê-la imediatamente, sem raciocinar, sem hesitar’.”<br />

(1988, p. 335)<br />

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