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HELÂNIA CUNHA DE SOUSA CARDOSO A POESIA ... - Educadores

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Para Lorca, duende (que na linguagem comum designa um espírito sobrenatural<br />

do tipo poltergeist) passou a denotar uma forma de inspiração dionisíaca sempre<br />

relacionada à angústia, ao mistério e à morte, e que anima particularmente o<br />

artista que se apresenta em público – o músico, o dançarino ou o poeta que recita<br />

sua criação para uma platéia ao vivo, como tantas vezes ele mesmo fez. Se bem<br />

que o duende possa se manifestar em qualquer lugar, Lorca estava convencido de<br />

que a Espanha é o seu país de preferência – o país onde a fiesta nacional (que não<br />

se deve confundir com esporte) é o rito sacrifical da tourada. Sem duende,<br />

explicava Lorca, a arte do cantaor, ainda que tecnicamente perfeita, não terá<br />

pungência, não causará arrepios na espinha de quem o escuta. (GIBSON, 1989,<br />

p.143)<br />

Portanto, é esse poder de duende que João Cabral destaca em seus depoimentos e ao<br />

tematizar o cante jondo em vários momentos de sua poesia:<br />

El cante hondo<br />

This is the way the world ends<br />

Not with a bang but a whimper<br />

O cante hondo às mais das vezes<br />

desconhece essa distinção:<br />

o seu lamento mais gemido<br />

acaba em explosão.<br />

Tão retesada é sua tensão,<br />

tão carne viva seu estoque,<br />

que ao desembainhar-se em canto<br />

rompe a bainha e explode.<br />

(MELO NETO,1997, p. 47)<br />

Além de se referir à música flamenca como um canto explosivo, antimelódico por<br />

excelência, o poeta compara-a ao frevo de sua terra, observando que “são músicas que me<br />

excitam e despertam.”(MELO NETO, 1991)<br />

Ainda el cante flamenco<br />

É música desejada<br />

como o que não adormece:<br />

o mais contrário do embalo<br />

e do conto emoliente.<br />

Na Andaluzia esse canto<br />

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