HELÂNIA CUNHA DE SOUSA CARDOSO A POESIA ... - Educadores
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analogia com os procedimentos da dança e do cante flamenco, caracterizados por ele<br />
mesmo como sendo essencialmente visuais: “A música andaluza se associa a movimento de<br />
dança, torna-se visual. Aí eu gosto.”(MELO NETO, 1982) Assim, a poesia cabralina<br />
torna-se “uma poesia de fanopéia”, tal como propõe Cesário Verde em Portugal e García<br />
Lorca, na Espanha, como ressalta o próprio João Cabral.(MELO NETO, 1989)<br />
Quanto ao aproveitamento de elementos regionais, observamos, sobretudo na<br />
segunda parte da pesquisa, que em nenhum momento João Cabral abdica da preocupação<br />
com o fazer literário, uma vez que vai buscar nos clássicos espanhóis a linguagem que o<br />
ajudará a “escrever para o povo”. De o “Poema do Cid” a Gonzalo de Berceo e ao Século<br />
de Ouro, até a Geração de 27, tudo impressiona o poeta pernambucano, fazendo com que<br />
estude os espanhóis “verdadeiramente anos a fio”.(MELO NETO, 1966)<br />
O poeta lembra em seus depoimentos que a convivência com a cultura espanhola<br />
dá-lhe “um afastamento suficiente, não excessivo, para poder escrever sobre o Nordeste”, e<br />
a carreira diplomática liberta-o do que chama de provincianismo de muitos de seus<br />
contemporâneos.(Ibidem) Desse modo, João Cabral prioriza a comunicação com o leitor,<br />
sem abandonar o que João Alexandre Barbosa chama de “princípio da imitação da<br />
forma”(1975, p.224)<br />
No que concerne ao aproveitamento de motivos espanhóis, constatamos, também na<br />
segunda parte, que, primeiramente, João Cabral deixa-se seduzir pelas paisagens femininas<br />
da Espanha, sem perder de vista os espaços masculinos de seu sertão nordestino. Quanto<br />
mais o poeta freqüenta a geografia espanhola, mais aumenta o seu fascínio pela corrida de<br />
touros, pela dança e pela música andaluzas. Esse encantamento de João Cabral confunde o<br />
leitor crítico, o qual começa a pressentir o retorno do poeta à tradição lírica que sempre<br />
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