HELÂNIA CUNHA DE SOUSA CARDOSO A POESIA ... - Educadores
HELÂNIA CUNHA DE SOUSA CARDOSO A POESIA ... - Educadores
HELÂNIA CUNHA DE SOUSA CARDOSO A POESIA ... - Educadores
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Quão bem borda!Com que graça!<br />
Sobre o pano palhiço,<br />
ela quisera bordar<br />
flores de sua fantasia.<br />
Que girassol! Que magnólia<br />
de lantejoulas e cintas!<br />
Que açafrões e que luas,<br />
no mantel da missa!<br />
Cinco toranjas se adoçam<br />
na próxima cozinha.<br />
As cinco chagas de Cristo<br />
cortadas em Almeria.<br />
Pelos olhos da monja<br />
galopam dois cavaleiros.<br />
Um rumos último e surdo<br />
lhe desprega a camisa,<br />
e ao olhar nuvens e montes<br />
nas hirtas lonjuras<br />
parte-se o seu coração<br />
de açúcar e erva-luísa.<br />
Oh! Que planura empinada<br />
com vinte sós em cima.<br />
Que rios postos de pé<br />
vislumbra sua fantasia!<br />
Mas segue com suas flores,<br />
enquanto de pé, na brisa,<br />
A luz joga xadrez<br />
no alto da gelosia.<br />
(LORCA,1999, p.365)<br />
Em relação a esse romance, Lisboa observa que há a quebra da tradição do octossílabo,<br />
já que o romance apresenta trinta e seis versos sem intervalos gráficos. Os versos pares são<br />
arrematados pela assonância do í-a, diferindo-se dos demais poemas do livro. Além desses<br />
aspectos estruturais, o texto é construído na base de uma antinomia, anunciada no título do<br />
romance. A palavra “monja” sugere um quadro de regra e disciplina, ao passo que a<br />
qualificação “gitana”, segundo o crítico, remete-nos à idéia de<br />
raça inquieta e andarilha, marcada pela exuberante fantasia tanto exteriormente<br />
acentuada nas roupagens policrômicas e no espetacular excesso de adornos<br />
pessoais como nos caprichos dos ofícios preferidos pelos ciganos e nas suas<br />
ousadas criações artísticas (nos metais, nas músicas, nas danças) – que<br />
correspondem s impulsos interiores instáveis, quase anárquicos do<br />
sangue.(LISBOA, 1983, p.73)<br />
156