HELÂNIA CUNHA DE SOUSA CARDOSO A POESIA ... - Educadores
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egistradas na poesia de Lorca. O poeta pernambucano recupera as mesmas imagens<br />
cortantes da seta e da espada de Lorca, só que destituídas de seu tom lacrimoso, mas<br />
tratadas no seu contexto de agudeza “reta” e de “penetrante fio”.<br />
Na segunda parte, o poeta pernambucano tenta interpretar a música andaluza na sua<br />
relação com o cotidiano do povo andaluz:<br />
A – Tem alfinetes nas veias<br />
que nas veias se atropelam,<br />
tem mantas de carne viva<br />
cobrindo sua alma inteira.<br />
B – Mas o timbre desse canto<br />
que acende na própria alma<br />
o cantor da Andaluzia<br />
procura-o no puro nada,<br />
como à procura do nada<br />
é a luta também vazia<br />
entre toureiro e o touro,<br />
vazia, embora precisa,<br />
em que se busca afiar<br />
em terrível parceria<br />
no fio agudo de facas<br />
o fio frágil da vida.<br />
A – Até o dia em que essa lâmina<br />
abandone seu deserto,<br />
encontre o avesso do nada,<br />
tenha enfim seu objeto,<br />
Até o dia em que essa lâmina,<br />
essa agudeza desperta,<br />
ache, no avesso do nada,<br />
o uso que as facas completa.<br />
(MELO NETO, 1986, p.264-5)<br />
Nas últimas estrofes do texto, João Cabral dá sentido ao cantar espanhol no que<br />
concerne ao seu poder de sugestão do canto que envolve tanto o cantor como os seus<br />
ouvintes. Nesse contexto, o poeta brasileiro remete-nos à figura do duende de Lorca.<br />
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