HELÂNIA CUNHA DE SOUSA CARDOSO A POESIA ... - Educadores
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com esses espaços, como em “Tecendo a manhã”, também de A educação pela pedra<br />
(1962-1965):<br />
Um galo sozinho não tece uma manhã:<br />
ele precisará sempre de outros galos.<br />
De um que apanhe esse grito que ele<br />
e o lance a outro: de um outro galo<br />
que apanhe o grito que um galo antes<br />
e o lance a outro; e de outros galos<br />
que com muitos outros galos se cruzem<br />
os fios de sol de seus gritos de galo,<br />
para que a manhã, desde uma teia tênue,<br />
se vá tecendo, entre todos os galos.<br />
2.<br />
E se encorpando em tela, entre todos,<br />
se erguendo tenda, onde entrem todos,<br />
se entretendendo para todos, no toldo<br />
(a manhã) que plana livre de armação,<br />
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo<br />
Que, tecido, se eleva por si: luz balão.<br />
(MELO NETO, 1986, p. 19)<br />
Inicialmente é importante lembrar que a imagem do grito, trabalhada na primeira<br />
estrofe, é revista pelo poeta em vários poemas, como Auto do frade (1984) “Ocorrências de<br />
uma sevilhana” e “A entrevistada disse, na entrevista” 47 , do livro Agrestes (1985). Nos<br />
quatro momentos, está relacionada à medida de distância, como reza a cultura espanhola.<br />
No dizer do poeta: “Talvez eu tenha me repetido porque achasse que não tinha sido ainda<br />
explorada completamente essa metáfora, essa imagem”(MELO NETO, 1989). Assim, no<br />
poema em estudo, o grito sugere a marcação do espaço entre os galos, possibilitando ao<br />
leitor a configuração geométrica dos fios do sol, da teia tênue, da tela e da tenda/toldo, da<br />
manhã.<br />
Além desse aspecto, ao atentarmos para as estratégias de composição do poema,<br />
observamos que o texto resulta de um intenso trabalho intelectual. O poeta afirma que<br />
47 Conferir anexo 02.<br />
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