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HELÂNIA CUNHA DE SOUSA CARDOSO A POESIA ... - Educadores

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ultrapassa a visão racionalista cartesiana. Consciente do seu papel de poeta-crítico, o autor<br />

não se atém somente ao princípio da auto-referência e do autoquestionamento da sua<br />

linguagem. Como vimos, o discurso literário e crítico do poeta é marcado pela preocupação<br />

com o leitor e pela comunicabilidade dos poemas.<br />

Ao tratar do processo de composição em poesia, por exemplo, João Cabral propõe a<br />

discussão acerca das idéias opostas de “inspiração” e “trabalho artístico” que marcam sua<br />

geração. Sabemos que João Cabral sempre negou todo tipo de lirismo que se vincula à idéia<br />

de “inspiração”, ou seja, aquela escrita em linguagem corrente, resultante de pouca<br />

elaboração, cuja essencialidade está no tom<br />

É através do tom, de suas qualidades musicais, e não qualidades intelectuais ou<br />

plásticas, que ela [a poesia] tenta reproduzir o estado de espírito em que foi<br />

criada. Muitas vezes, mais do que pelas palavras é pela entonação que o autor<br />

penetra em sua atmosfera. É uma poesia que se lê mais com a distração do que<br />

com a atenção, em que o leitor mais desliza sobre as palavras do que as absorve.<br />

Vagamente, para captar das palavras, sua música. É uma poesia para ser lida mais<br />

do que para ser relida.(MELO NETO, 1998, p.59)<br />

Na concepção de João Cabral, a poesia de “inspiração” vale-se da musicalidade, da<br />

entonação, ou do tom, para alcançar o leitor. Percebemos que a palavra tom refere-se tanto<br />

ao modo de expressar-se, à inflexão da voz, como, no contexto da música, à altura de um<br />

som na escala geral dos sons. Desse modo, a palavra tom está ligada ao sentido da audição,<br />

à capacidade de ouvir.<br />

De acordo com os estudos sobre os sentidos apresentados por Jacob Bronowski<br />

(1997), a audição é um tipo de apreensão do mundo limitada, que não leva o leitor a uma<br />

experiência estética completa, uma vez que o ouvido é usado amplamente para o<br />

estabelecimento de contato com outras pessoas ou com outras coisas vivas, a fim de se<br />

obter informações dessas outras pessoas ou coisas no mundo.<br />

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