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HELÂNIA CUNHA DE SOUSA CARDOSO A POESIA ... - Educadores

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Inicialmente observamos que as imagens que nos são apresentadas surgem a partir<br />

da perspectiva de um “eu” que contempla o mundo natural ou imaginado. Embora<br />

tenhamos a impressão de que esse “eu” se encontre numa atitude permanentemente<br />

passiva diante do mundo, ele espia o que existe e o que não existe. Voltando ao<br />

dicionário, espiar refere-se ao ato de “observar secretamente; procurar descobrir, com o<br />

fim de fazer danos, as ações de; espionar.” Ou “olhar, observar furtivamente,<br />

disfarçadamente”. (FERREIRA, 1986, p. 704) Portanto, a passividade do eu-lírico pode<br />

ser vista também como disfarce, tentativa de engodo, daquele que sabe de seu<br />

propósitos, mas teme anunciá-los explicitamente na obra de estréia. De modo que, na<br />

situação de observador do mundo, João Cabral nos remete ao gauche de Carlos<br />

Drummond de Andrade. As referências aos temas, imagens e até palavras do poeta<br />

mineiro constituem o começo de um poeta que ainda não definiu o seu timbre.<br />

No entanto, a possibilidade de anunciar o tipo de texto que deseja alcançar<br />

também se confirma no uso enfático do gerúndio, que nos remete à idéia de ação<br />

duradoura, pesquisa constante, persistente, minuciosa, traço que marca o fazer poético<br />

do autor em tela.<br />

Nesse sentido, ressaltamos ainda a idéia de que o eu-lírico se vale de olhos que<br />

“têm telescópios” e que compõem “visões mecânicas” do universo natural ou<br />

imaginado. Os olhos telescópicos, então, tornam a realidade ou os objetos mais<br />

próximos, mais completos, mais visíveis, a ponto de ganharem corpo, isto é, a ponto de<br />

tornarem-se palpáveis, concretos. Essa operação de aproximação da imagem, de chegá-<br />

la a si, para transmitir-lhe uma nova vida e fazer dela uma realidade perceptível de<br />

forma dinâmica, viva e integral é vista por Luiz Costa Lima (1968) e Angélica Maria<br />

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