HELÂNIA CUNHA DE SOUSA CARDOSO A POESIA ... - Educadores
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anunciar os seus procedimentos artísticos, a fim de que possa, acima de tudo, falar claro<br />
com seu leitor.<br />
Comecemos pelo poema “Autocrítica”, no qual João Cabral anuncia o seu modo de<br />
tratar os dois principais espaços geográficos de sua poética:<br />
Só duas coisas conseguiram<br />
(des)feri-lo até a poesia:<br />
o Pernambuco de onde veio<br />
e o aonde foi, a Andaluzia.<br />
Um , o vacinou do falar rico<br />
e deu-lhe a outra, fêmea e viva,<br />
desafio demente: em verso<br />
dar a ver Sertão e Sevilha.<br />
(MELO NETO, 1997, p. 140)<br />
Assim como em “Duas paisagens”, de Paisagens com figuras (1954-1955), o poeta<br />
propõe novamente o entrecruzamento entre dois espaços aparentemente opostos: o<br />
masculino Pernambuco e a feminina Andaluzia. No caso de”Autocrítica”, tanto um espaço<br />
quanto o outro contribuem para o falar cabralino. Da retórica objetiva, seca e contundente<br />
de Pernambuco ao dizer sensível, emocional e sedutor de Sevilha, apreendemos a<br />
plasticidade que fundamenta o universo poético cabralino.<br />
Já no poema “Pregão turístico de Recife”, também do livro Paisagens com figuras<br />
(1954-1955), João Cabral apresenta um espaço tecido pela geografia masculina do sertão,<br />
que encontra no sol com sua luz de agulhas, a sua comparação. Ao mesmo tempo, Recife é<br />
cidade alicerçada pela imagem da pedra, da terra bruta:<br />
Pregão turístico do Recife<br />
A Otto Lara Resende<br />
Aqui o mar é uma montanha<br />
regular redonda e azul,<br />
mais alta que os arrecifes<br />
e os mangues rasos ao sul,<br />
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