HELÂNIA CUNHA DE SOUSA CARDOSO A POESIA ... - Educadores
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Pernambuco. Desse modo, João Cabral fala do leitor ao leitor analfabeto, mesmo com o<br />
objetivo de levá-lo apenas a experimentar o prazer da descoberta da literatura.<br />
Apesar de o poeta brasileiro manifestar preocupação como leitor, Donis A.<br />
Dondis (1997) observa que ainda há muito o que fazer quanto à recepção da arte da era<br />
tecnológica:<br />
A arte e o significado da arte mudaram profundamente na era tecnológica, mas a<br />
estética da arte não deu resposta às modificações.Aconteceu o contrário: enquanto<br />
o caráter das artes visuais e sua relação com a sociedade modificaram-se<br />
dramaticamente, a estética da arte tornou-se ainda mais estacionária. O resultado<br />
é a idéia difusa de que as artes visuais constituem o domínio exclusivo da<br />
intuição subjetiva, um juízo tão superficial quanto o seria a ênfase excessiva no<br />
significado literal. Na verdade, a expressão visual é o produto de uma inteligência<br />
extremamente complexa, da qual temos, infelizmente, em conhecimento muito<br />
reduzido. (DONDIS, 1997, p.27)<br />
De acordo com a pesquisadora, a estética da arte visual ainda não desenvolveu um<br />
sistema estrutural e uma metodologia que permita o ensino e o aprendizado de como<br />
interpretar visualmente as idéias. O leitor ainda não educou o seu olhar para a visão das<br />
coisas. As pessoas tendem a fazer leituras impressionistas, intuitivas do objeto artístico,<br />
limitando as possibilidades de sentidos a que tal objeto pode remeter. No que tange à<br />
literatura em geral, ainda persiste o olhar impressionista do leitor comum. Nesse contexto,<br />
encontra-se o leitor comum. O poeta tenta caracterizá-lo:<br />
[Eu defendia] uma poesia que chegasse ao povo. Eu achava que a poesia estava<br />
fechada demais e tentei abri-la um pouco mais. Mas depois eu vi que era um<br />
negócio muito difícil por essa coisa de que o leitor no Brasil é a elite, de forma<br />
que você, queira ou não queira, acaba escrevendo para essa elite. Como é que<br />
você vai escrever para o sertanejo, que não sabe ler? (MELO NETO, 1994)<br />
Percebemos, por essas palavras, que há uma preocupação constante do poeta com o<br />
leitor analfabeto e com o leitor comum. Essa é uma atitude que merece a nossa atenção,<br />
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