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HELÂNIA CUNHA DE SOUSA CARDOSO A POESIA ... - Educadores

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Sob esse aspecto, escrever claro, dar a ver a realidade não significa simplesmente<br />

organizar o texto dentro de uma lógica matemática, geométrica, ou como rezam algumas<br />

propostas de objetividade que antecedem a produção poética de João Cabral, sobretudo no<br />

Brasil 10 , mas usar palavras concretas.<br />

Por isso, ao se referir aos três tipos de poesia propostos por Erza Pound, o poeta<br />

afirma que as poesias portuguesa e brasileira são “preponderantemente melopéia e<br />

logopéia” (MELO NETO, 1958), ou seja, poesia de sugestão auditiva e poesia que<br />

transmite uma idéia, respectivamente. A poesia cabralina é vista por ele mesmo como uma<br />

poesia de “fanopéia”, isto é, aquela que apresenta uma realidade visual ou visualizável. Este<br />

tipo de poesia, a fanopéica, ao sugerir uma maçã, por exemplo, cria um símbolo, um objeto<br />

concreto, que pode ser lido tanto pelo escritor, como pelo leitor, por dar a ver o que o<br />

escritor quer dizer. Desse modo, a comunicação entre os dois se estabelece prontamente,<br />

porque quando se lê maçã, não se lê o conceito de maçã. Ao passo que melancolia, cada<br />

um lê de um jeito. Para João Cabral a palavra concreta, porque muito mais sensorial, é<br />

sempre mais poética do que a palavra abstrata, pois a palavra concreta é a palavra entendida<br />

pelos sentidos e a palavra abstrata é a palavra que se atinge pela inteligência. (MELO<br />

NETO, 1989)<br />

Em virtude dessas afirmações, perfilamos a racionalidade cabralina à vertente que<br />

pretende a organização de um tipo de linguagem literária que corporifica a palavra, a fim de<br />

que esta seja percebida pelo leitor e se encarne como algo que produza uma nova e<br />

10 Na seqüência deste primeiro capítulo, tentaremos evidenciar as diferenças que existem entre o projeto de<br />

objetividade de João Cabral e as propostas que marcaram as gerações que precederam o poeta, sobretudo a<br />

geração de 30, de acordo com os estudos de Flora Sussekind (1984)<br />

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