HELÂNIA CUNHA DE SOUSA CARDOSO A POESIA ... - Educadores
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O poeta participa também de reuniões onde há contato com os cantores do flamenco.<br />
Em uma dessas ocasiões, uma festa organizada em 1927 para jovens literatos espanhóis em<br />
Madri, da qual também participa Damaso Alonso e Rafael Alberti, Manuel Torre, um<br />
grande cantaor cigano, tenta explicar aos presentes os mistérios do cante jondo – o genuíno<br />
flamenco - através da enunciação do seguinte pensamento: “o que temos de buscar<br />
constantemente, até encontrar, é o tronco negro do Faraó; isto é, um meio de ligar-se à<br />
herança que, na tradição cigana, remonta ao tempo em que as tribos perambulavam no<br />
Egito.” (GIBSON, 1989, p.236)<br />
Embora não tenha tido a mesma experiência de García Lorca, a referência à música<br />
flamenca e ao universo cigano também é constante na poética cabralina, desde Paisagens<br />
com figuras (1954-1955), primeiro livro que articula o Nordeste ao contexto espanhol:<br />
Diálogo<br />
A – O canto da Andaluzia<br />
é agudo com seta<br />
no instante de disparar<br />
ainda mais aguda e reta.<br />
B – Mas quem atira essa seta<br />
de tão penetrante fio<br />
pensa que a faca melhor<br />
é a que recorta o vazio.<br />
A J. P. Moreira da Fonseca<br />
A – É um canto em que se sente<br />
o que uma espada no frio,<br />
desembainhada, sem mesmo<br />
ter ferrugem como abrigo.<br />
B – Mas é espada que não corta<br />
e que somente se afia,<br />
que deserta se incendeia<br />
em chama que arde sozinha.<br />
A primeira parte do poema de João Cabral, organizada em conjuntos de estrofes que<br />
se contrapõem, parece propor um diálogo direto com as características do cante jondo<br />
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