HELÂNIA CUNHA DE SOUSA CARDOSO A POESIA ... - Educadores
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colhe da memória onde os tem.<br />
Eis talvez o melhor momento<br />
para ele, de seu desempenho:<br />
a Polícia, na mira, o tem;<br />
mas no “Lafaiete”entretém,<br />
e enquanto entretém, entretece,<br />
em sinal mais, quem lá aparece:<br />
é sem pregação, manifesto<br />
(e o gesto só o vê quem de perto);<br />
sabe o gesto sábio e ambíguo:<br />
é sempre com o mesmo sorriso<br />
que devolve o mau poema-sim<br />
e o fascista-sim porque sim.<br />
Assim viveu até que o Truão.<br />
Até que Oscar pôs-lhe nas mãos<br />
botar Brasília em pé. Qual a moeda?<br />
Deu-nos um novo Frei Caneca.<br />
(MELO NETO, 1997, p.321-5)<br />
Anexo 02<br />
Dentro da perda da memória<br />
A José Guimarães de Araújo<br />
Dentro da perda da memória<br />
uma mulher azul estava deitada<br />
que escondia entre os braços<br />
desses pássaros friíssimos<br />
que a lua sopra alta noite<br />
nos ombros nus de retrato.<br />
E do retrato nasciam duas flores<br />
(dois olhos dois seios dois clarinetes)<br />
que em certas horas do dia<br />
cresciam prodigiosamente<br />
para que as bicicletas de meu desespero<br />
corressem sobre seus cabelos.<br />
E nas bicicletas que eram poemas<br />
chegavam meus amigos alucinados.<br />
Sentados em desordem aparente,<br />
ei-los a engolir regularmente seus<br />
relógios<br />
enquanto o hierofante armado cavaleiro<br />
movia inutilmente seu único braço.<br />
(MELO NETO, 1986, p.376-7)<br />
Poema de desintoxicação<br />
Em densas noites<br />
com medo de tudo:<br />
de um anjo que é cego<br />
de um anjo que é mudo.<br />
Raízes de árvores<br />
enlaçam-me os sonhos<br />
no ar sem aves<br />
vagando tristonhos.<br />
Eu penso o poema<br />
da face sonhada,<br />
metade de flor<br />
metade apagada.<br />
O poema inquieta<br />
o papel e a sala.<br />
Ante a face sonhada<br />
o vazio se cala.<br />
Ó face sonhada<br />
de um silêncio de lua,<br />
na noite da lâmpada<br />
pressinto a tua.<br />
Ó nascidas manhas<br />
que uma fada vai rindo,<br />
sou o vulto longínquo<br />
de um homem dormindo.<br />
A Jarbas Pernambucano<br />
(MELO NETO, 1986, p.378)<br />
Poesia<br />
Ó jardins enfurecidos,<br />
pensamentos palavras sortilégio<br />
sob uma lua contemplada;<br />
jardins de minha ausência<br />
imensa e vegetal;<br />
ó jardins de um céu<br />
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