HELÂNIA CUNHA DE SOUSA CARDOSO A POESIA ... - Educadores
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estudos que salientam e ilustram o quanto as teorias e a estrutura do De pictura dependem<br />
das tradições poéticas e retóricas.<br />
Na verdade o tratado de Alberti vai além do paralelismo de seus antecessores, pela<br />
singularidade de seu discurso ao conceituar arte e artista. O autor elabora seus preceitos e<br />
conceitos a partir, principalmente, das retóricas de Cícero e Quintiliano.<br />
A pintura, retórica traduzida, constitui-se não apenas como tomadora de temas, mas,<br />
basicamente, como articulação: as cinco partes canônicas da retórica, a saber, invenção,<br />
disposição, elocução, ação e memória, operam no discurso albertiano. Porém não há uma<br />
aplicação mecânica dessas partes, pois na pintura de Alberti temos três momentos:<br />
circunscrição, composição e recepção de luzes. O paralelismo ocorre também na<br />
composição, segunda etapa da pintura. As partes da composição – superfície, membros,<br />
corpos – compõem-se segundo a divisão gramatical, letras, sílabas, dicções. Alberti postula<br />
que os jovens pintores devem agir como os jovens que aprendem a escrever:<br />
Ensinam-lhes em primeiro lugar e separadamente todas as formas de letras, que<br />
os antigos chamavam elementos, depois ensinam as sílabas; a seguir, ensinam a<br />
compor todas as palavras. Os nossos alunos deviam seguir esse método na<br />
pintura. Primeiramente deveriam aprender a desenhar bem os contornos das<br />
superfícies; a seguir, deveriam aprender cada forma distinta de cada membro e<br />
confiar à memória toda a diferença que possa existir em cada membro.<br />
(ALBERTI, 1999, p. 141)<br />
Quanto ao pintor, Alberti observa que é um homem moralmente bom e culto em<br />
muitas coisas, conquista fama e fortuna certa na sociedade, parecido com o modelo de<br />
orador-cidadão de Quintiliano. Nessa perspectiva, as artes plásticas são liberadas do<br />
menosprezo que pesava sobre elas, desde Platão, “iniciador do longo reino do logos”,<br />
“supremo inimigo da imagem”, como observa Solange Ribeiro de Oliveira (1993, p.14).<br />
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