HELÂNIA CUNHA DE SOUSA CARDOSO A POESIA ... - Educadores
HELÂNIA CUNHA DE SOUSA CARDOSO A POESIA ... - Educadores
HELÂNIA CUNHA DE SOUSA CARDOSO A POESIA ... - Educadores
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
É nessa direção que entendemos a proposta da poesia de João Cabral, já que o poeta<br />
tenta “pintar” uma realidade de um modo que ainda não foi pintado pela nossa tradição<br />
lírica 37 , privilegiando a expressividade do texto.<br />
Na mesma conferência em que trata do problema da composição poética, o poeta<br />
reafirma a questão do perigo da incomunicabilidade da arte, já que o trabalho artístico,<br />
voltado apenas para a pesquisa formal da linguagem, pode tornar-se uma violência contra si<br />
mesmo. Em cada novo livro há a preocupação em se cortar mais do que em se acrescentar<br />
ao que já está feito, em nome do que não se sabe. Nesse sentido, o poeta corre o risco de<br />
produzir uma obra de arte que passa a valer por si, matando um certo tipo de comunicação<br />
com o leitor:<br />
Seria a morte da comunicação, e nela esse tipo de poesia iria se encontrar com a<br />
outra incomunicação, a do balbucio, que, por outros caminhos, estão também<br />
buscando os poetas do inefável e da escrita automática.(MELO NETO, 1998,<br />
p.67)<br />
Morta a comunicação, surge uma espécie de desprezo pelo leitor, resultando um<br />
processo criativo o qual funda as bases do hermetismo na poesia. Há o perigo de o poeta<br />
falar sozinho “de si mesmo, de suas coisas secretas, sem saber para quem escreve. Sem<br />
saber se o que escreve vai cair na sensibilidade de alguém com os mesmos segredos,<br />
capaz de percebê-los” (MELO NETO, 1998, p.68)<br />
Com esse argumento, João Cabral mostra a relevância do leitor no momento da<br />
criação do poema. Essa nova poesia demanda um novo tipo de leitor. Que leitor seria<br />
37 Em entrevista a Marques Gastão, em 1958, Cabral diz que: “Um crítico brasileiro disse que eu sou o poeta<br />
mais estranho e distante da tradição do lirismo português e brasileiro. (...) O que limita as duas poesias, a<br />
portuguesa e a brasileira, é serem excessivamente líricas e, como tais, exclusivamente subjetivas. E, como<br />
subjetivas, correm o perigo de cair no sentimentalismo”<br />
58