HELÂNIA CUNHA DE SOUSA CARDOSO A POESIA ... - Educadores
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Theodor W. Adorno (1980) .<br />
Daí, os traços da modernidade nessa poética são sólidos, racionais. É a palavra<br />
concreta, centrada em imagens duras e cortantes, que deslizam, universalizando-se ao<br />
suscitar a constante reflexão daquele que se propõe a adentrar nos poemas. Assim, a análise<br />
das imagens em João Cabral deixa entrever a dinâmica do ato criador, calcada na tensão<br />
entre o distanciamento e a aproximação do real.<br />
É nesse viés que consideramos o discurso de Miró, quando pela fragmentação, pela<br />
geometria e pela multiplicidade de perspectivas de sua caligrafia pictórica, propõe a fusão<br />
do lógico e ilógico, do racional e do onírico. Exemplos dessa dinâmica estão nos quadros<br />
comentados anteriormente.<br />
Em relação a João Cabral, no poema “A bailarina”, do livro O engenheiro (1942-<br />
1945), percebemos o cruzamento de imagens, por oferecer a temática da mulher aliada à<br />
imagem do pássaro:<br />
A bailarina<br />
A bailarina feita<br />
de borracha e pássaro<br />
dança no pavimento<br />
anterior do sonho.<br />
A três horas de sono,<br />
mais além dos sonhos,<br />
nas secretas câmaras<br />
que a morte revela.<br />
Entre monstros feitos<br />
a tinta de escrever,<br />
a bailarina feita<br />
de borracha e pássaro.<br />
Da diária e lenta<br />
borracha que mastigo.<br />
Do inseto ou pássaro<br />
que não sei caçar.<br />
(MELO NETO, 1986, p.342)<br />
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