HELÂNIA CUNHA DE SOUSA CARDOSO A POESIA ... - Educadores
HELÂNIA CUNHA DE SOUSA CARDOSO A POESIA ... - Educadores
HELÂNIA CUNHA DE SOUSA CARDOSO A POESIA ... - Educadores
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Psicologia da composição e Antiode (1946-1947), já mereceu inúmeras leituras da crítica<br />
brasileira.<br />
Ao longo de nossas leituras sobre essa fábula, percebemos que é consensual a idéia<br />
de que o texto, numa perspectiva metalingüística, remete ao processo de “despoetização”<br />
do poema e que tal processo leva o leitor a refletir sobre a identidade entre o mundo e a<br />
linguagem. Destacamos o estudo de José Guilherme Merquior (p. 104), no qual o texto é<br />
visto como o poema que exprime a insuficiência da linguagem poética no momento de<br />
dizer a realidade.Do mesmo modo é tratada a outra fábula que remete à arquitetura, a<br />
“Fábula de um arquiteto”.<br />
A despeito dessas leituras, retomamos a última fábula de João Cabral, a fim de que<br />
possamos sinalizar para outras possibilidades de observar o intercurso entre a poesia<br />
cabralina e a arquitetura.<br />
Fábula de um arquiteto<br />
Arquitetura como construir portas,<br />
de abrir; ou como construir o aberto;<br />
construir, não como ilhar e prender,<br />
nem construir como fechar secretos;<br />
construir portas abertas, em portas;<br />
casas exclusivamente portas e tecto.<br />
O arquiteto: o que abre pra o homem<br />
(tudo se sanearia desce casas abertas)<br />
portas por-onde, jamais portas-contra;<br />
por onde, livres: ar luz razão certa.<br />
2.<br />
Até que, tantos livres e amedrontando,<br />
Renegou dar a viver no claro e aberto.<br />
Onde vãos de abrir, ele foi amurando<br />
Opacos de fechar; onde vidro, concreto;<br />
Até refechar o homem: na capela útero,<br />
Com confortos de matriz, outra vez feto.<br />
(MELO NETO, 1986, p.21)<br />
171