HELÂNIA CUNHA DE SOUSA CARDOSO A POESIA ... - Educadores
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Santos Soares (1978) como o princípio da visibilidade, ou o mecanismo da visualização-<br />
concreção: “Visualização não deve ser confundida com visão, pois enquanto esta é<br />
apenas um dos sentidos da percepção humana, aquela se refere a uma forma de criação<br />
poética, que implica na relação dialética entre percepção e imaginação.” (SOARES,<br />
1978, p.46) 41 Por isso, no segundo poema intitulado “os olhos”<br />
Todos os olhos olharam:<br />
o fantasma no alto da escada,<br />
os pesadelos, o guerreiro morto,<br />
a girl a forca o amor.<br />
Juntos os peitos bateram<br />
e os olhos todos fugiram.<br />
(Os olhos ainda estão muito lúcidos).<br />
(MELO NETO, 1986, p. 375)<br />
Portanto, na mesma direção do texto anterior, estes são olhos que têm condições de<br />
precisar as imagens observadas, tomá-las nos seus aspectos físicos, geográficos, enfim,<br />
corporificá-las através do mesmo procedimento, mesmo que pertençam ao campo da<br />
imaginação, pois “Os olhos ainda estão muito lúcidos”. Nessa perspectiva, os olhos<br />
possibilitam enxergar a realidade a partir do que é menos visível ao olho comum.Assim,<br />
mesmo que o eu-lírico não seja sujeito das ações que observa, percebemos que ele dá a ver<br />
a realidade de forma lúcida, figura o real, através do registro predominante de imagens, de<br />
situações e de ações concretas:<br />
Poema deserto<br />
Todas as transformações<br />
todos os imprevistos<br />
se davam sem o meu consentimento.<br />
Todos os atentados<br />
41 Lúcia Santaella e Winfried Nöth (2005, p. 36), observam que “essa dualidade semântica das imagens como<br />
percepção e imaginação se encontra profundamente arraigada no pensamento ocidental.”<br />
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