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HELÂNIA CUNHA DE SOUSA CARDOSO A POESIA ... - Educadores

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de encerado com o desenho de um trançado de palhinha, como o que se utiliza em cadeiras,<br />

iniciando, assim, a invasão do espaço ilusório da imagem pelos objetos.<br />

Segundo Giulio Carlo Argan (1993, p.359), “para os cubistas, a colagem servia para<br />

demonstrar que não existe separação entre o espaço real e o espaço de arte, de modo que as<br />

coisas da realidade podem passar para a pintura sem alterar sua substância.” Já Golding<br />

(2000, p.46) considera que o cubismo serve de “ponte entre nossos modos habituais de<br />

percepção e o fato artístico, tal como nos é apresentado pelo artista.” Em outras palavras, o<br />

procedimento recoloca a imagem no nosso cotidiano, ao mesmo tempo em que a integra à<br />

construção plástica da pintura.<br />

Além da alusão às telas de Picasso em que há a técnica dos “papéis colados”, em<br />

“Homenagem a Picasso”, muitos outros poemas de Pedra do sono foram inspirados em<br />

quadros da pintura cubista. Nesse sentido, o poeta pernambucano consegue suscitar a<br />

impressão de estranheza no leitor ao se utilizar de uma linguagem e/ou de uma temática que<br />

põem em questão o sentido da poesia.<br />

Por outro lado, a introdução de “substâncias estranhas” nos quadros, segundo Braque,<br />

dá à obra o “sentido material”, além de possibilitar a extração de significados inesperados<br />

da combinação dessas substâncias de um modo original, como podemos perceber no poema<br />

“Composição”:<br />

Frutas decapitadas, mapas,<br />

aves que prendi sob o chapéu,<br />

não sei que vitrolas errantes,<br />

a cidade que nasce e morre,<br />

no teu olho a flor, trilhos<br />

que me abandonam, jornais<br />

que me chegam pela janela<br />

repetem gestos obscenos<br />

que vejo fazerem as flores<br />

me vigiando em noites apagadas<br />

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