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HELÂNIA CUNHA DE SOUSA CARDOSO A POESIA ... - Educadores

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Já para Marilena Chaui (1988, p.47), “ouvir, volta-nos para dentro, ver, lança-nos<br />

para fora.” A pesquisadora observa, no entanto, que mais importante do que pensar essa<br />

diferença é considerar a afirmação platônica de que a verdadeira causa pela qual recebemos<br />

a audição e a vista é estarmos destinados ao conhecimento. Por estar voltada para o interior,<br />

“a audição nos faz começar ali onde todo saber deve começar, interpretação socrática do<br />

oráculo de Delfos: ‘conhece-te a ti mesmo’.”(Ibidem)<br />

Nessa perspectiva, João Cabral neutraliza a poesia de “inspiração”, levando-nos a<br />

presumir que esta seja um tipo de texto que não proporciona ao autor/leitor a verdadeira<br />

fruição estética. O poeta considera que, por não se constituir como uma atividade limitada,<br />

aplicadora de regras, ou posterior à inspiração, a tendência de se trabalhar o projeto artístico<br />

é convertida em exercício estético desde o momento da criação. Essa seria a forma de<br />

realização artística: o poeta torna-se leitor de si mesmo, crítico de seu fazer, inventor de<br />

“novo tipo de dicção”. Por isso, de acordo com João Cabral:<br />

Não é o olho crítico posterior à obra. O poema é escrito pelo olho crítico, por um<br />

crítico que elabora as experiências que antes vivera, como poeta.(...) Não é de<br />

estranhar que muitas vezes esqueçam essa experiência, como tal, e que ela, ao<br />

ressuscitar, venha vestida de outra expressão, diversa completamente. (MELO<br />

NETO, 1998, p.65)<br />

O poder sugestivo da linguagem cabralina está mais pautado “nos truques da escrita do<br />

que na sonoridade melódica de seus versos”, como lembra Herrera (1995, p.152). Desse<br />

modo, essa nova dicção, embora possa ser confundida com uma nova lei criada pelo poeta,<br />

não toma a forma de “catecismo para uso privado, um conjunto de normas precisas que ele<br />

se compromete a obedecer” (MELO NETO, 1998, p.66). Ao contrário, o único ponto de<br />

referência que o poeta teria ao escrever seria a sua consciência, “a consciência de dicções<br />

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