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HELÂNIA CUNHA DE SOUSA CARDOSO A POESIA ... - Educadores

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tenham perdido a intimidade:<br />

que ela só, entre todas cidades,<br />

pode o aconchego de mulher,<br />

pode o macio existir do mel,<br />

que outrora guardava nos pátios<br />

e hoje é de todo antigo bairro.<br />

(MELO NETO, 1997, p.384)<br />

À medida que “anda” poeticamente por Sevilha, o poeta vai fazendo com que o<br />

movimento se inverta e a cidade passe a desfilar diante de seus olhos, revelando os seus<br />

mistérios e belezas. É um lugar onde vive um povo de espírito guerreiro, como foram os<br />

antigos gregos, fenícios, celtas e romanos. Há a devoção do cristianismo medieval, a magia<br />

dos ciganos, a inteligência dos judeus, o sentimento refinado dos árabes muçulmanos. Em<br />

Sevilha o renascimento se funde com o barroco e a descoberta das Américas com o<br />

modernismo contemporâneo.<br />

Portanto, se para João Cabral, a “poesia se dirige à inteligência, através dos sentidos”,<br />

ao longo de sua trajetória pelo espaço espanhol percebemos a maneira como aquela<br />

realidade foi sentida pelo poeta. Conversas com pessoas da cidade, descrição de paisagens,<br />

de monumentos, audição da música flamenca, cheiro das laranjeiras que ornamentam, tudo<br />

isso foi cantado em versos pelo poeta nordestino.<br />

Enfim, o que podemos depreender desse percurso é que essa é uma poesia que, como<br />

nos lembra Benedito Nunes (2001),<br />

canta menos e conta mais. Ela narra e dramatiza no empenho didático de ''dar a<br />

ver'' o que é e o que há. Divide-se sem partir-se numa voz alta para aglomerados<br />

de feira, sua ''segunda água'', fluvial (Morte e vida severina, p.ex.), e uma voz<br />

baixa da câmara, a ''primeira água'' (Uma faca só lâmina, p.ex.), cisterna que é a<br />

sede do próprio leitor avançando pelos meandros do texto para sorvê-lo.<br />

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