HELÂNIA CUNHA DE SOUSA CARDOSO A POESIA ... - Educadores
HELÂNIA CUNHA DE SOUSA CARDOSO A POESIA ... - Educadores
HELÂNIA CUNHA DE SOUSA CARDOSO A POESIA ... - Educadores
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
É na possibilidade de ser percorrida “por dentro”, “por detrás da fachada” que a casa-<br />
mulher seduz o olhar de seu contemplador. Portanto, derrubam-se os limites e as barreiras<br />
do geometrismo da imagem, para que esta se constitua como figura multifacetada.<br />
A casa-mulher é valorizada por se abrir para o que não se vê por fora; pelo que<br />
possui por dentro, “com seus vazios, com o nada”. Toda a caracterização prosaica da casa-<br />
mulher, como a “plácida elegância”, o “reboco claro”, o “riso franco de varandas” vai<br />
sendo negado como objeto de contemplação, para que se busque o que a casa-mulher “pode<br />
ser dentro”.<br />
Esse paradoxo que define o feminino em “A mulher e a casa” pode ser observado<br />
também no poema “Mulher vestida de gaiola” 79 , do mesmo livro. Aparentemente “cingida”,<br />
limitada pela gaiola, a mulher se debate no seu interior e a sua força é a força “de enchente<br />
do mar de Olinda” . (MELO NETO, 1986, p.176) Portanto, ela se sente livre.<br />
Do mesmo modo é tratada a figura feminina de “Uma ouriça” 80 , do livro A<br />
educação pela pedra (1962-1965). Além de trabalhada geometricamente através dos<br />
movimentos convexo e côncavo, a imagem da ouriça deixa de ser “passiva (como ouriço<br />
na loca)” para ser “agressiva (como jamais o ouriço)”, quando se chega perto dela; ou se<br />
lhe chega de longe, “propícia” para o “assalto” e para o “abraço”, simultaneamente.<br />
Nas obras posteriores, como em Sevilha andando (1987-1993), depois de<br />
“sevilhizada”, 81 a imagem da “casa-mulher” apresenta-se reiterada na imagem da “barcaça-<br />
mulher”:<br />
79 Conferir anexo 05.<br />
80 Conferir anexo 05.<br />
81 Cabral propõe em Andando Sevilha que: “Como é impossível, por enquanto, civilizar toda a terra, o jeito é<br />
sevilhizar o mundo”.<br />
175