18.04.2013 Views

HELÂNIA CUNHA DE SOUSA CARDOSO A POESIA ... - Educadores

HELÂNIA CUNHA DE SOUSA CARDOSO A POESIA ... - Educadores

HELÂNIA CUNHA DE SOUSA CARDOSO A POESIA ... - Educadores

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

porque sei sempre que está<br />

no extremo da linha vazia:<br />

é um vazio vivo, habitado<br />

por todo o zumbir que é Sevilha<br />

mesmo dormida de todo:<br />

o que é muito pouco por dia.<br />

Ligo o telefone e espero:<br />

melhor se não o atendessem.<br />

Então, é o respirar recado:<br />

fala-me dormindo, e entendo<br />

e me diz tudo o que acordada<br />

por puro pudor não diria:<br />

“Não imagines que sou menos<br />

porque agora estou dormida;<br />

tanto dormindo entre lençóis,<br />

ou no telefone abstraída,<br />

te respondo em mulher inteira,<br />

mais que qualquer outra, Sevilha.”<br />

(MELO NETO, 1997, p.344)<br />

Ainda Sevilha ao telefone<br />

Quando pelo telefone<br />

quero falar com Sevilha<br />

e Sevilha, por acaso,<br />

está no instante dormida,<br />

deixo aberto o telefone<br />

à concha de voz vazia:<br />

ouço então no telefone<br />

como relógio com vida,<br />

toda uma vida passar<br />

como o ácido vivo de ginja.<br />

Ninguém fala ao telefone,<br />

mas há pulsação longínqua;<br />

onde há um pregão de tudo,<br />

onde há pragas de vizinhas,<br />

e se ouve o arfar de cidade<br />

que sabe dormir feminina.<br />

(MELO NETO,1997, p.348)<br />

225

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!