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Livro CI 2008

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V Curso de Inverno<br />

roedores, e a glândula pineal em aves e répteis, eram os grandes representantes desses<br />

osciladores únicos, em vertebrados. Posteriormente, a retina veio se juntar como uma<br />

terceira estrutura produtora de oscilações auto-sustentadas circadianas (Besharse & Iuvone,<br />

1983) (Tosini & Menaker, 1996). Estudos posteriores acabaram por indicar que o<br />

acoplamento entre essas três estruturas resulta no eixo central do sistema circadiano de<br />

vertebrados. Este acoplamento é variável entre espécies, podendo cada espécie incorporar<br />

uma, duas ou todas essas estruturas em seu eixo central circadiano (Menaker, 1982).<br />

A incorporação de cada uma dessas estruturas no eixo central varia enormemente<br />

quando se estudam espécies filogeneticamente próximas. Nas aves, por exemplo, o estudo<br />

comparativo do efeito da pinealectomia em diversas espécies levava a resultados pouco<br />

convergentes. A pinealectomia causava arritmicidade em certas espécies passeriformes,<br />

modificava o padrão da atividade locomotora em outros (estorninho) e, finalmente, não<br />

alterava este ritmo em outros (galos e codornas). O ritmo circadiano de produção de<br />

melatonina em culturas de pinealócitos correspondentes às pineais dos três grupos era<br />

igualmente robusto, indicando mesma capacidade oscilatória mas diferenças na<br />

incorporação desta glândula no eixo central do sistema circadiano (Takahashi et al., 1980).<br />

Em répteis, a variabilidade na incorporação de cada estrutura é ainda mais dramática, uma<br />

vez que ocorrem divergências mesmo entre espécies de mesmos gêneros (Underwood,<br />

1977).<br />

Neste quadro aparentemente caótico, é notório o fato de que todos os mamíferos<br />

apresentam os NSQs como osciladores centrais únicos, além de apresentarem uma<br />

glândula pineal incapaz de sustentar oscilação quando isolada de suas aferências. A<br />

glândula pineal assume o papel de eferência dos NSQs em mamíferos. A retina, por sua<br />

vez, assume papel de aferência aos NSQs, sendo que os mamíferos constituem o único<br />

grupo animal que apresenta fotorrecepção centralizada, exclusivamente retiniana. A única<br />

outra espécie conhecida que apresenta exatamente esta mesma estrutura do sistema<br />

circadiano (fotorrecepção exclusivamente retiniana, pineal não oscilatória e oscilador único<br />

provavelmente no hipotálamo) são as feiticeiras (ciclóstomas como as lampréias)<br />

localizadas no outro extremo da árvore filogenética dos vertebrados. Existem muitas<br />

especulações interessantes sobre o porquê dessa estruturação unificada entre mamíferos e<br />

diferenciada do restante dos vertebrados e uma das proposições deste fato curioso traz à<br />

luz a conexão entre a “história fótica” vivenciada por cada espécie ao longo da evolução e<br />

esta estruturação. Dentro dessa proposição, argumenta-se que os mamíferos evoluíram de<br />

um grupo ancestral comum noturno. Essa hipótese ficou conhecida como a do “gargalo<br />

noturno” (Menaker & Tosini, 1996; Menaker et al., 1997). Semelhanças na história fótica<br />

seriam mais determinantes do que a proximidade filogenética entre espécies na<br />

estruturação do sistema circadiano, como exemplificado pelas semelhanças observadas<br />

entre os mamíferos e a feiticeira.<br />

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