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Livro CI 2008

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V Curso de Inverno<br />

Evolução do Comportamento Eusocial:<br />

o Eterno Paradigma<br />

Pedro Leite Ribeiro<br />

Laboratório de Ecofisiologia Evolutiva<br />

pedrolribeiro@gmai.com<br />

Nos arredores de um depósito de lixo, uma mosca varejeira macho encontra uma<br />

fêmea, uma breve corte acontece. Ele exibe um repertório comportamental de danças<br />

estereotipadas que impressionam a fêmea, esta aceita a cópula que dura alguns poucos<br />

minutos.<br />

Perto dali, apoiado numa trama de galhinhos de uma trepadeira, a uns 15 cm do<br />

solo, um ninho de tico-tico abriga um só filhote, na primeira semana de vida. Está<br />

sossegado, talvez dormindo, protegido do sol de verão pela folhagem acima. De repente,<br />

bem rápida, chega a fêmea de tico-tico e habilmente pousa na beirada do ninho. Ato<br />

contínuo, o filhote se ergue, pescoço esticado para cima, o bico escancarado. A fêmea,<br />

agitada ou apressada, mete o bico goela adentro do pidão, retira-o, e girando o corpo, voa<br />

para trás, na direção de onde chegou. Não ficou nem um instante para descansar do sol<br />

dardejante de verão. Alguns minutos depois, ela chega de novo, mais uma refeição. Mais<br />

alguns minutos e a cena se repete. No entanto, ela não vai à exaustão total, e acaba<br />

descansando um pouco. (Robert et al. 1961)<br />

Bem mais longe, uma outra fêmea, uma mulher, engata a primeira marcha em seu<br />

carro e parte para o shopping center. Na lista que leva na bolsa estão anotados vários itens,<br />

incluindo fraldas, mamadeira, chupetas, leite em pó e um carrinho de bebê. Enquanto dirige,<br />

ela pensa na lista, e faz cálculos de dinheiro. Fica preocupada e percebe que vai ter de<br />

pagar com o cartão de crédito. Ao pensar em cada item, aparece em sua mente a imagem<br />

de um bebê, o filho de uma amiga, e ela sorri.<br />

No jardim da casa desta mulher há uma colméia de abelhas. Lá, milhares de<br />

operárias trabalham freneticamente em diferentes tarefas de forma a suprir todas as<br />

necessidades do grupo. Um olhar atento revela que há uma divisão de tarefas, grupos de<br />

abelhas fazem coisas distintas, cada indivíduo parece ser responsável por uma tarefa<br />

diferente, e de forma harmônica e um pouco misteriosa, tudo que precisa ser feito para que<br />

a colônia sobreviva é feito. Numa outra câmara desta mesma colônia há uma abelha<br />

diferente, um pouco maior e não parece estar engajada em nenhuma tarefa de mesma<br />

classe que todas as outras. A abelha rainha. Ela põe ovos, que são cuidados pelas<br />

operárias, quando se transformam em larvas estas são alimentadas pelas suas irmãs mais<br />

velhas até que se transformem em adultos e comecem colaborar com necessidades da<br />

colônia. A rainha desta espécie de abelhas, além de pôr ovos, tem uma outra silenciosa e<br />

importante tarefa. Ela usa substâncias químicas, feromônios, que inibem as suas filhas, as<br />

operárias, de se tornarem fêmeas férteis (Wenseleers e Ratnieks 2006).<br />

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