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Livro CI 2008

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V Curso de Inverno<br />

A sobrevivência dos animais que exibem dormência sazonal depende, em grande<br />

parte, de ajustes na estrutura e na função do trato gastrintestinal, em resposta a variações<br />

na demanda e suprimento energético. Tais ajustes podem ter sido favorecidos pela seleção<br />

natural, reduzindo o custo metabólico de manutenção no período em que o órgão encontrase<br />

em desuso. O intestino é o primeiro órgão a ser diretamente afetado por mudanças nas<br />

taxas de ingestão alimentar. Boa parte da energia ingerida é destinada à manutenção deste<br />

órgão, que apresenta um intenso metabolismo, dado principalmente pela atividade de<br />

transportadores e de síntese protéica, esta última para reposição de componentes celulares,<br />

que resulta em um elevado custo de manutenção do tecido, atingindo cerca de 20-30% do<br />

metabolismo basal em mamíferos (Tracy & Diamond 2005). Em mamíferos hibernantes se<br />

observa uma atrofia da musculatura do intestino e da camada mucosa durante a dormência,<br />

com diminuição pela metade do seu conteúdo protéico, causando um encurtamento da<br />

região das vilosidades. Embora as alterações observadas possam representar um potencial<br />

comprometimento da capacidade total de digestão e absorção do órgão, a arquitetura e a<br />

capacidade funcional do tecido por unidade de massa encontram-se bem preservadas ao<br />

final do período de dormência, inclusive se comparadas a de animais em plena atividade.<br />

Esta característica pode estar associada com a ocorrência de vários episódios de despertar<br />

durante o período total de dormência, típica de pequenos hibernantes, permitindo o<br />

reabastecimento de estoques celulares e a síntese de proteínas (Carey et al. 2003). Desse<br />

modo, apesar da atrofia, a preservação da capacidade funcional do tecido teria grande<br />

relevância na fase crítica que inicia na primavera, garantindo que o animal esteja apto a<br />

digerir e absorver nutrientes, ainda que parcialmente, logo após o despertar, quando os<br />

estoques corpóreos de energia encontram-se reduzidos e há um aumento do consumo de<br />

energia para o forrageamento e alimentação.<br />

Em contraste com mamíferos, a dormência sazonal em certos anfíbios e répteis é um<br />

processo contínuo ao longo de vários meses, não incluindo episódios de despertar, e a<br />

contribuição relativa do tecido intestinal para a economia energética na fase dormente pode<br />

ser maior que a observada em hibernantes típicos. Em lagartos teiú jovens, a depressão<br />

metabólica na dormência atinge 80% das taxas de repouso na fase de atividade (Souza et<br />

al. 2004) e é acompanhada de uma redução de 37% da massa do intestino médio. No<br />

retorno à atividade e retomada da alimentação, há um aumento de três vezes da massa total<br />

do órgão (Nascimento et al. 2007). Em sapos estivantes, a acentuada atrofia do intestino no<br />

período de dormência é seguida de uma recuperação total do órgão, em apenas 36 h após a<br />

realimentação, e ao término deste período o animal responde com um aumento de cinco<br />

vezes da massa intestinal (Cramp & Franklin 2005).<br />

A contribuição relativa de diferentes tecidos para a economia energética na<br />

depressão é variável. O intestino médio, o coração, o fígado e os rins perfazem apenas<br />

cerca de 1/8 da massa corpórea do rato, porém o custo energético de manutenção desses<br />

tecidos é cerca de 25% da taxa metabólica basal. Portanto, a atrofia e/ou redução da<br />

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