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Livro CI 2008

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Evolução de Sistemas Fisiológicos<br />

Fisiologia Evolutiva: contexto histórico e fundamentos<br />

Monique N. Simon<br />

Laboratório de Ecofisiologia e Fisiologia Evolutiva<br />

msimon@ib.usp.br<br />

“Todos os fisiólogos, com efeito, admitem que a especialização dos órgãos é uma<br />

vantagem para o indivíduo, no sentido que, neste estado, os órgãos desempenham melhor<br />

suas funções; em conseqüência, acúmulo das variações tendentes à especialização é da<br />

alçada da seleção natural. Por outro lado, se for cogitado que todos os seres organizados<br />

tendem a se multiplicar rapidamente e a se apoderar de todos os lugares desocupados, ou<br />

pouco ocupados na economia da natureza, fácil nos é compreender ser muito possível que<br />

a seleção natural prepare gradualmente um indivíduo para uma situação na qual muitos<br />

órgãos lhe serão supérfluos e inúteis; neste caso haveria uma real retrogradação na escala<br />

da organização.”<br />

Charles Darwin<br />

Reflexões sobre a evolução da função de órgãos e sistemas fisiológicos não são<br />

recentes para a comunidade científica. Um exemplo categórico está nas palavras de Charles<br />

Darwin em seu famoso livro “A Origem das Espécies e a Seleção Natural” publicado em sua<br />

primeira edição em 1859. Apesar de Darwin ter dado bastante ênfase aos caracteres<br />

morfológicos e comportamentais dos organismos ao propor a seleção natural como o<br />

mecanismo da evolução, algumas passagens do livro (como por exemplo a exposta acima)<br />

referem-se à fisiologia, inserindo-a em um contexto ecológico. O parágrafo acima demonstra<br />

a clareza com que Darwin percebia a evolução de caracteres fisiológicos, pois compreendia<br />

que os organismos não evoluem em uma única direção (para o aumento da especialização),<br />

mas sim para múltiplas direções dependendo das condições ambientais.<br />

Apesar do antigo interesse de diversos pesquisadores no tema, os evolucionistas<br />

americanos Garland e Carter (1994) consideraram que houve uma grande expansão na<br />

área denominada ‘fisiologia evolutiva’ a partir de 1970. Os estudos anteriores à essa<br />

década, realizados por pesquisadores das áreas de fisiologia comparativa e ecofisiologia,<br />

descreviam caracteres fisiológicos como funções de variáveis ambientais (isto é, a<br />

capacidade de se alterar a fisiologia diante de mudanças ambientais), mas não descreviam<br />

a variabilidade desses caracteres em populações naturais nem o quão herdáveis eram<br />

esses caracteres. O maior enfoque na variabilidade e na herdabilidade (características<br />

primordiais para a evolução) surgiu com o avanço tecnológico e teórico na área: uso de<br />

programas de análise filogenética e de estudos de seleção, e incorporação de conceitos da<br />

genética de populações e da genética quantitativa. Portanto, as variáveis estudadas são as<br />

mesmas da fisiologia comparativa e da ecofisiologia, o que muda é o contexto analítico, as<br />

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