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Livro CI 2008

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V Curso de Inverno<br />

abordagens adotadas para a compreensão da evolução de sistemas fisiológicos (Bradley e<br />

Zamer 1999).<br />

Garland e Carter (1994) e Feder e colaboradores (2000) destacam o artigo de<br />

Stephan Jay Gould e Richard Lewontin, publicado em 1979, como um marco conceitual<br />

dentro da fisiologia evolutiva, um verdadeiro divisor de águas. No artigo “The sprandels of<br />

San Marco and the Panglossian paradigm: a critique of the adaptacionist programme”, Gould<br />

e Lewontin criticaram o que denominaram como ‘programa adaptacionista’: a pré-concepção<br />

de que todos os padrões de caracteres biológicos resultam de adaptação. De maneira mais<br />

direta: contrariaram o hábito de se considerar tudo como uma adaptação desde o início.<br />

Os autores ponderaram que o programa adaptacionista determina a seleção natural<br />

como uma força muito poderosa e única agindo sobre os indivíduos. Essa idéia contradiz o<br />

que o próprio Darwin afirmava: “Estou convencido de que a seleção natural é a maneira<br />

principal, mas não exclusiva de modificação”. Os estudos que se enquadram nesse<br />

paradigma, nesse modo de pensar, utilizam como único critério para aceitar uma<br />

determinada explicação evolutiva a consistência com a seleção natural. Gould e Lewontin<br />

defenderam que explicações alternativas à idéia de que ‘toda parte do organismo tem um<br />

propósito’ devem ser pensadas.<br />

Um bom exemplo dado por eles é o do Tyranosaurus: tenta-se explicar a existência<br />

de membros anteriores reduzidos em Tyranosaurus de diversas maneiras, sendo uma delas<br />

o uso pelo animal dos pequenos braços para se levantar. Gould e Lewontin enfatizaram que<br />

não era preciso ver o encurtamento dos braços como sendo exclusivamente uma<br />

adaptação. Provavelmente era uma conseqüência inevitável de padrões alométricos<br />

(alometria: estudo das proporções do corpo dos organismos em relação ao seu tamanho<br />

total) de aumento da cabeça em relação aos membros anteriores. Ainda advertiram que não<br />

se deve confundir o uso atual de uma estrutura com sua função original, já que os<br />

caracteres podem ser mantidos por pressões seletivas diferentes das que os originaram.<br />

O artigo de Gould e Lewontin perpetuou um maior rigor evolutivo nos estudos em<br />

fisiologia e uma transição de modelos dedutivos-especulativos (dificilmente testáveis) para<br />

modelos dedutivos-hipotéticos, com a possível falseabilidade das hipóteses e adoção de<br />

explicações alternativas. Com essa mudança de paradigma na fisiologia evolutiva, novas<br />

perguntas foram estabelecidas assim como novas abordagens. Dentre suas questões<br />

capitais estão (Feder e colaboradores 2000):<br />

(1)Quais são os padrões históricos, ecológicos e filogenéticos da evolução<br />

fisiológica?<br />

Quando contextualizamos as espécies em padrões filogenéticos determinamos o<br />

estado ancestral dos caracteres e sua taxa de mudança evolutiva, e aceitamos que a<br />

mudança evolutiva de um caracter (detectado no descendente) relaciona-se com seu estado<br />

ancestral. Um caracter existente em determinada espécie pode ter sido originado no<br />

ancestral e mantido/modificado no descendente pelas mesmas pressões seletivas, por<br />

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