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Livro CI 2008

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Fisiologia da Audição<br />

Neurofisiologia da Linguagem<br />

Rodrigo Collino<br />

Laboratório de Neurociências e Comportamento<br />

rodrigocollino@usp.br<br />

Introdução<br />

Dentro das ciências cognitivas, o estudo da linguagem tem ganhado grande atenção<br />

nas últimas décadas. É uma área que envolve diversos detalhes e grande complexidade,<br />

dado o emprego de técnicas desenvolvidas apenas recentemente (a partir da metade do<br />

séc. XX) em estudos neurocientíficos. Anteriormente a este período, as conclusões de<br />

médicos acerca da neurofisiologia da linguagem eram abstraídas somente através da<br />

análise da casos clínicos, advindos de acidentes que causassem danos a áreas específicas<br />

do cérebro, e que acabavam por desenvolver sequelas de cunho linguístico – na<br />

compreensão da fala, ou na produção de mesma, por exemplo. Retrocedendo mais ainda no<br />

tempo, pensava-se na Grécia Antiga que o controle da linguagem estivesse concentrado<br />

totalmente na língua do indivíduo. Assim, ao encontrar um indivíduo que, provavelmente<br />

devido a um acidende vascular cerebral (AVC), apresentasse dificuldades na dicção, era<br />

comum oferecer-lhe tratamento através de massagens em sua língua, na esperança de<br />

recobrar-lhe a fala. Atualmente, estudiosos da neurociência contam com instrumentos<br />

aguçados de avaliação da atividade cerebral, tais como fMRI, MEG, PET e ERP, a fim de<br />

correlacionar características da linguagem e regiões cerebrais específicas e seus<br />

respectivos padrões de ativação neuronal.<br />

Neste capítulo, vamos explorar algumas das maravilhas da linguagem produzidas<br />

pelo cérebro humano: o que a torna tão particular da espécie humana, sua lateralização e<br />

modularidade cerebral, distúrbios ocasionados pela falha em alguns de seus mecanismos, e<br />

como é possível o cérebro aprender e utilizar mais de uma língua para nossa comunicação.<br />

A Linguagem é exclusiva do Homem?<br />

Vivemos imersos neste complexo comportamento chamado linguagem; ouvimos,<br />

falamos, lemos e escrevemos quase que instintivamente e inconscientemente, sem pensar<br />

muito na ordem das palavras que emitimos, ou no som das sílabas que ouvimos. Bebês<br />

nascem e, em questão de 1 ou 2 anos, já entendem muito de sua língua-mãe e não levam<br />

muito mais tempo para se comunicarem fluentemente.<br />

Antes objeto de estudo apenas de linguistas, hoje a Linguagem passa também ao<br />

domínio de neurocientistas que procuram traçar sua ontogenia cerebral, e até mesmo<br />

encontrar semelhanças entre a nossa comunicação e aquela usada por outros animais. De<br />

certo, algumas espécies de animais se comunicam, como as aves, cães, lobos e primatas,<br />

mas até que ponto esta forma de comunicação pode ser equiparada à nossa? Será que<br />

alguma outra espécie poderia aprender a “linguagem dos homens”?<br />

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