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Livro CI 2008

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Fisiologia da Audição<br />

de conceitos, sejam eles abstratos ou concretos, independente do conteúdo emocional<br />

desses conceitos”; em outras palavras, assim como a linguagem, a música pode facilitar a<br />

compreensão de significados (em palavras e, provavelmente, também contextos). Na<br />

pesquisa realizada pelos autores, palavras aleatórias foram apresentadas aos indivíduos<br />

após eles terem ouvido ou uma frase ou um trecho musical. Resultados obtidos com testes<br />

específicos de eletroencefalografia mostraram dados semelhantes para a ativação<br />

resultante causada pela música ou pelas frases.<br />

Ritmicidade<br />

Há ainda mais: paralelos entre a rítmica da linguagem e a da música (Patel, 2003b).<br />

A análise do ritmo da linguagem e da música em subcomponentes e a comparação entre os<br />

domínios revelam que o agrupamento rítmico é semelhante na linguagem e na música, mas<br />

não sua estrutura periódica (que é mais organizada na música). Novas evidências ainda<br />

sugerem que a rítmica de linguagem de uma cultura deixa impressões na sua rítmica<br />

musical. Isto é, diferenças na rítmica da linguagem refletem-se na rítmica musical nas<br />

diferentes culturas. Novos estudos transculturais permitirão afirmar se essas evidências se<br />

confirmam. Esses achados reforçam a noção de que a música possui tanto sintaxe quanto<br />

semântica e seja, possivelmente, como a linguagem, relativamente inerente ao homem e<br />

não um simples produto da cultura.<br />

Timbre<br />

Trabalhos recentes relacionados a timbre mostram que o processamento dessa<br />

propriedade do som envolve redes neurais próprias, incluindo regiões anteriores e<br />

posteriores do giro temporal superior, e, possivelmente, áreas frontais também (o que<br />

parece bastante claro, dada a necessidade de memória operacional – ver no tópico seguinte<br />

explicação – à manutenção de informações sobre qualquer som percebido). Uma revisão<br />

sobre esses trabalhos parece apontar que o timbre musical é uma propriedade<br />

multidimensional do som que nos permite distinguir instrumentos musicais (e certamente<br />

também vozes).<br />

A evolução da discriminação de timbres certamente não é produto da necessidade<br />

de reconhecimento de diferentes instrumentos musicais. O reconhecimento de tonalidades<br />

(característica gerada por vibrações sonoras periódicas) é importante para reconhecer<br />

diferentes vocalizações de animais na natureza; elas seriam uma boa indicação para<br />

distinguir as vocalizações de outros ruídos. As tonalidades e o timbre certamente serviriam<br />

também à identificação de vozes (é sabido, por exemplo, que mesmo bebês recém nascidos<br />

discriminam a voz da mãe de outras vozes). Relativamente à música, a capacidade de<br />

reconhecimento de timbre seria utilizada no reconhecimento de diferentes instrumentos<br />

musicais e as tonalidades no reconhecimento de diferentes notas.<br />

Diante de tais paralelos, torna-se praticamente inegável que a música está presente<br />

no cotidiano humano mais do que apenas por prazer ou questões culturais. A organização<br />

de nosso sistema nervoso e as implicações que as estimulações musicais trazem nos<br />

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