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isbn_aguardando

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porque é por meio dela que podemos nos mostrar mais imediatamente<br />

ao outro e, segundo, porque, muitas vezes, este é o único modo, ou pelo<br />

menos o modo mais imediato, pelo qual o outro pode nos reconhecer e<br />

conhecer. Ora, diz Miller, o outro não nos enxerga, num primeiro momento,<br />

senão pelo que deixamos transparecer, uma vez que nosso interior<br />

está oculto; daí tanta importância atribuída, em tantas culturas, à<br />

aparência como base para a interação entre o eu e o outro.<br />

Como afirma Miller, numa quase provocação, a sociedade ocidental<br />

contemporânea talvez seja a que mais condena tal centralidade atribuída<br />

às aparências no seu sentido mais superficial: em tantas outras<br />

sociedades, mostra ele, a aparência é quase só o que importa, porque é<br />

só isto o que se pode mostrar ao outro – daí tanto esforço gasto em se<br />

mostrar a aparência “certa”, “apropriada”, ou seja, exatamente aquela<br />

que queremos mostrar (Miller, 2013) 6 .<br />

O que tal formulação propõe é que consideremos a aparência<br />

como detentora de verdades ao invés de “superficialidades” sobre os sujeitos,<br />

uma vez que é, sim, a nossa imagem, a imagem que projetamos<br />

para que o outro, que serve de base inicial para nossas interações. Sob<br />

essa ótica, a aparência, a imagem pessoal projetada pelo sujeito perante<br />

o outro operaria quase que como um cartão de visitas, uma apresentação<br />

que serviria de base para a comunicação.<br />

Complicando ainda mais a discussão sobre imagem e aparência,<br />

os modos como os indivíduos se apresentam aos outros, seja em casa,<br />

em espaços públicos, no trabalho, no lazer etc., são sempre resultados<br />

de escolhas dentro de um código social pré-estabelecido, que tem a ver<br />

com classe, gênero, idade, raça etc. Ou seja, com diferenças sociais cuja<br />

superação está além da capacidade de cada sujeito. Tem a ver, portanto,<br />

com toda a ansiedade que essa necessidade de se projetar a imagem<br />

“certa” traz ao sujeito em seu dia a dia. Afinal, todos sabemos dos efeitos<br />

negativos sofridos por quem não projeta a imagem “certa” – seja em<br />

racismos explícitos, seja em discriminações mais veladas baseadas na<br />

impressão de que alguns sujeitos não se adéquam às visões dominantes<br />

do que seria a “boa” aparência.<br />

6<br />

Cf. Goffman (2007).<br />

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