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acreditamos é que olhar o astroturfing com uma perspectiva relacional<br />

pode ajudar a compreender melhor a prática justamente pelas características<br />

desse modo de ver – um enfoque menos determinista, mais propício<br />

para pensar as interações e sentidos produzidos por essas relações.<br />

Adotar a perspectiva relacional não significa negar a existência de<br />

uma intencionalidade ou de consequências do astroturfing. Perpassa, porém,<br />

a compreensão de que a intencionalidade não pode ser vista como<br />

um determinismo causal. Há uma intencionalidade primeira naquela<br />

ação, mas não acabada – ao contrário, ela emerge por meio do processo<br />

relacional, no curso da interação. Da mesma forma, existem consequências,<br />

mas estas também não devem ser tomadas como algo determinado<br />

apenas por ações unilateralmente pensadas. Mais do que a intenção original<br />

ou as consequências finais do processo, é o percurso desenvolvido<br />

pelo fenômeno que nos permite ampliar a compreensão sobre ele.<br />

Olhar para o astroturfing pela perspectiva relacional da comunicação<br />

significa, assim, não buscar explicações totalizantes a partir de<br />

nexos causais. É necessário pensar nos aspectos da prática que observamos<br />

até o momento – a manifestação de um público simulado e o público<br />

mobilizado – para além de uma unilateralidade: a manifestação simulada<br />

de um público não causa por si só a mobilização de um público,<br />

ela pode ser um fator ou um apelo, mas seria um erro imaginar que ela<br />

determina o envolvimento do público – como França (2012, p. 47) nos<br />

lembra, “alguém não decide isoladamente pelo envolvimento do outro; a<br />

mobilização diz respeito à potência do fato (...) e nenhum agente detém<br />

o poder de definir completamente a afetação do outro”.<br />

Não cabe também dizer que o astroturfing determina a opinião<br />

pública – ele é, sim, uma prática que busca influenciá-la, mas não é possível<br />

imaginar um cenário em que ela determina a opinião dos públicos.<br />

Acreditamos que um olhar comunicacional voltado para a perspectiva<br />

relacional possa contribuir para explorar aspectos sobre a prática do<br />

astroturfing e fornecer subsídios que ajudem na compreensão sobre a<br />

formação da opinião pública em uma sociedade pluralista e complexa,<br />

bem como em investigações sobre a genealogia e os processos de movimento<br />

dos públicos. Embasados em tal perspectiva abordamos, a seguir,<br />

um dos aspectos centrais encontrados em nossa pesquisa sobre o tema:<br />

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