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Os defensores do politicamente correto reconhecem que a linguagem<br />

não é neutra, mas, sim, uma prática social e um sistema simbólico<br />

que afetam o modo como os indivíduos entendem e representam o mundo<br />

e a si próprios. Precisamente por isso, eles defendem o uso de novas<br />

palavras que possam construir outra realidade e influenciar a cognição<br />

das pessoas para outras direções (Semprini, 1999).<br />

Adilson Citelli (2008, p. 20) explica que, como os conflitos não<br />

desaparecem do mundo e da vida, o discurso tomará para si a tarefa<br />

de administrá-los, buscando o consenso a partir de movimentos dialógicos<br />

ativadores de relações intersubjetivas. A “linguagem tende a<br />

ser vista como saída política para a busca de alternativas consertadas<br />

entre partes não necessariamente confluentes em seus interesses pessoais<br />

ou coletivos”.<br />

Embora a intenção seja válida, na prática, nem sempre funciona.<br />

Saraiva e Irigaray (2009) analisaram o conteúdo das falas de executivos<br />

em uma filial no Brasil de uma empresa norte-americana que tem a diversidade<br />

como valor e perceberam preconceitos expostos em atos falhos<br />

cometidos durante as entrevistas sobre a efetividade do programa<br />

de diversidade na empresa.<br />

Eles descobriram que, embora as políticas e os programas de sensibilização<br />

para a diversidade fossem consolidados, as minorias e não-<br />

-minorias demonstraram atitudes discriminatórias entre si, evidenciando<br />

dificuldades no respeito as suas diferenças. “Os gerentes manifestam<br />

preconceito explícito ou velado; (...) há dissonância entre o discurso e as<br />

práticas de diversidade” (Saraiva; Irigaray, 2009, p. 346).<br />

Esse resultado demonstra que a linguagem politicamente correta,<br />

apesar de lutar contra uma visão dominante do mundo, não consegue<br />

abarcar toda a complexidade que se apresenta em um ambiente empresarial<br />

multicultural.<br />

Citelli (2008) lembra que o arcabouço linguístico cultural é formado<br />

a partir de um arranjo que compatibiliza o conhecimento por familiaridade<br />

e por descrição. No diálogo, manifesta-se a visão de mundo<br />

e uma maneira de conceber as relações humanas, a história e a cultura<br />

(Bakhtin, 1995), algo de que a linguagem politicamente correta não dá<br />

conta, porque cria palavras isentas de moral, de valores e vazias de simbolismo<br />

cultural.<br />

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