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CULTURA, UM CONCEITO ANTROPOLÓGICO EXPANDIDO<br />

O que foi discutido até aqui demanda uma nova definição de<br />

“cultura” para que possamos melhor perceber as implicações possíveis<br />

para se repensar a interculturalidade. Em resumo, o que se sugeriu até<br />

agora é que, em alguns contextos, a imagem, a aparência e a visualidade<br />

talvez importem mais do que a fala, o discurso propriamente<br />

dito. Talvez, principalmente, naqueles contextos multiculturais onde<br />

as traduções da linguagem e dos significados explicitados no discurso<br />

se mostram insuficientes.<br />

Esta proposta requer que se superem conceitos de cultura que<br />

prevaleceram durante muito tempo, segundo os quais se pressupunha<br />

que sujeitos são sempre produto e resultado de sua cultura, sendo influenciados<br />

e determinados por ela (Laraia, 2001). Desse ponto de vista,<br />

toda ação humana seria resultado direto da cultura à qual se pertence.<br />

A suposição, portanto, é que sujeitos são determinados pela cultura na<br />

qual estão inseridos, mesmo que, ocasionalmente, eles possam mobilizá-la<br />

seletivamente para alcançar determinados objetivos, e mesmo que<br />

seja possível, obviamente, aprender a operar numa cultura diferente da<br />

nossa. Mesmo assim, a ideia básica é que, ao menos num primeiro momento,<br />

somos aquilo que nossa cultura faz de nós, e nos comportamos<br />

de acordo com o que nossa cultura nos ensina.<br />

O que gostaria de sugerir, aqui, é que essa visão tende a produzir<br />

uma noção reativa e não ativa ou criativa de cultura. Em suas manifestações<br />

mais nefastas, tal conceito é exatamente o que produz os estereótipos<br />

culturais que, lamentavelmente ainda presentes na sociedade,<br />

tentam igualar um indivíduo à sua cultura por meio de simplificações<br />

grotescas. Exemplos como “cariocas são folgados” ou “baianos não gostam<br />

de trabalhar”, infelizmente, ainda constam do repertório de muitos<br />

indivíduos na sociedade brasileira.<br />

A chamada “teoria da prática”, na antropologia, busca exatamente<br />

superar essa visão reativa e passiva de cultura, enfatizando,<br />

pelo contrário, o fazer e as práticas de cada indivíduo. Propõe, como<br />

sua base interpretativa e analítica, a ideia de que cultura é produto da<br />

ação humana concreta e cotidiana e não o contrário. Ou seja, que as<br />

ações dos sujeitos não são meros reflexos de sua cultura e que, pelo<br />

contrário, as culturas são reflexo das ações dos sujeitos. O antropólo-<br />

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