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Todavia, existem leituras alternativas para o que estava em jogo<br />

naquele conflito. Uma sindicalista me narrou a história de outra forma.<br />

Segundo ela, desde 1995, com a criação do Inspir, os sindicatos atuam<br />

no combate ao racismo e ao sexismo no mercado de trabalho. Em 1999<br />

eles realizaram a pesquisa “Mapa da população negra no mercado de<br />

trabalho”. Os dados recolhidos demonstravam claramente a situação<br />

de desvantagem em que se encontrava o segmento negro e, sobretudo,<br />

as mulheres negras. Isso levou o Inspir a refazer a denúncia do Estado<br />

brasileiro junto às Nações Unidas pelo não-cumprimento da Convenção<br />

111 da OIT 8 . Nessa mesma época, prosseguiu ela, a Confederação dos<br />

Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf) estava debatendo a discriminação<br />

racial no segmento financeiro, mas os bancos negavam<br />

terminantemente a sua existência. “A constituição diz que é proibido<br />

discriminar e nós cumprimos a constituição”, alegavam os líderes empresarias<br />

do setor. Isto inviabilizava a negociação de qualquer política<br />

específica voltada para a população negra ou para as mulheres, ressaltou.<br />

Os banqueiros desafiavam os sindicalistas a provarem a existência<br />

da discriminação racial e de gênero no setor bancário.<br />

Em resposta, a Contraf, em parceria com o Dieese, realizou uma<br />

pesquisa que foi denominada de “O rosto dos bancários”. Tratava-se de<br />

um censo demográfico desse segmento. Novamente as desigualdades<br />

raciais e de gênero ficaram patentes. Com a ajuda do Inspir, o relatório<br />

do estudo foi enviado para a imprensa, para o MPT, para ONGs e para<br />

parlamentares. Houve grande repercussão. Os bancos tiveram então que<br />

responder à pressão e criaram uma comissão permanente para discutir<br />

a questão racial. Contudo, ainda segundo o ponto de vista da minha<br />

interlocutora, as coisas não avançaram como deveriam. Percebe-se assim<br />

que a presença da diversidade e da questão racial no mundo empresarial<br />

é vista de maneiras bem distintas pela liderança empresarial do<br />

segmento bancário e pela ativista do movimento sindical. Os trechos<br />

8<br />

Em 1992 o Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (Ceert),<br />

ONG proveniente do movimento negro, havia elaborado uma denúncia de<br />

não-cumprimento dessa convenção pelo Estado no Brasil, que foi encampada<br />

pelo Sindicato dos Bancários de Florianópolis. Este, por sua vez, convenceu a<br />

Confederação Única dos Trabalhadores (CUT) a denunciar formalmente o governo<br />

brasileiro junto à OIT.<br />

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