isbn_aguardando
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go e sociólogo Pierre Bourdieu (1977, 1990, 2006, 2009) foi o primeiro<br />
a propor essa abordagem, em livro originalmente publicado em 1972<br />
(Bourdieu, 1977). Já nessa obra, Bourdieu construía a ideia de que cultura<br />
não é apenas algo que define as pessoas: tanto quanto, e pelo mesmo<br />
processo pelo qual os sujeitos se tornam produto da cultura à qual<br />
pertencem, eles também definem e produzem essa cultura, por meio<br />
de suas práticas cotidianas. Assim, mediante aquilo que concretamente<br />
fazem, os sujeitos criam cultura e atribuem-lhe sentido dentro de<br />
seus contextos de vida específicos.<br />
A base para essa ideia está no conceito de habitus, desenvolvido<br />
por Pierre Bourdieu (1977, 1990, 2006, 2009), conceito que tenta explicar<br />
ao mesmo tempo como aprendemos, incorporamos e produzimos a<br />
cultura da qual fazemos parte. Entendido como parte fundamental da<br />
cultura, o habitus seria um sistema de disposições coletivas que indivíduos<br />
e grupos internalizaram e ao qual recorrem o tempo todo para dar<br />
sentido às suas práticas cotidianas (Bourdieu, 1977, p. 84-85). O habitus<br />
não está, diz Bourdieu, só na esfera do discurso, mas também, e primordialmente,<br />
no espaço das práticas cotidianas.<br />
A partir da abordagem de Bourdieu, depois avançada também<br />
pela antropóloga americana Sherry Ortner (1984, 2006), percebe-se a<br />
cultura como algo que se produz, e se manifesta, em tudo aquilo que<br />
fazemos, no sentido mais literal do termo. Ou seja, nas nossas práticas<br />
materiais e concretas: algumas delas são inconscientes, mundanas e<br />
corriqueiras, tais como andar, comer, vestir, falar, olhar para o outro, e<br />
algumas são mais racionais, objetivas e, potencialmente, mais “sérias”<br />
e “profundas”, tais como estudar, escrever, trabalhar, votar e assim por<br />
diante (Bourdieu, 1977, 1990, 2006, 2009) 7 .<br />
Mas por que, nesta perspectiva, tudo aquilo que os indivíduos<br />
fazem é significativo? Porque, dizem Bourdieu (1977, 1990, 2006, 2009)<br />
e Ortner (1984, 2006), a sociedade, ou seja, as estruturas sociais que<br />
compõem determinado contexto social, cultural, histórico, político e<br />
econômico e que constituem, por assim, dizer, o espaço social dentro<br />
do qual os indivíduos conduzem suas existências, têm uma existência<br />
concreta, material e objetiva. Elas não existem apenas no pensar dos<br />
7<br />
Cf. também Ortner (1984, 2006).<br />
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